Big Brother sem Brasil


Por dever do meu ofício de professor e cronista, acompanho alguns programas de televisão que normalmente não mereceriam minha atenção. Tenho que estar ligado naquilo que os meus alunos assistem, para oferecer a eles a possibilidade de um olhar crítico, reflexivo sobre aquilo que se vê na TV. Um desses programas é o Big Brother Brasil, da Rede Globo, classificado como um ‘reality show’.

            Minhas dúvidas já começam por aí. O que pode haver de realidade num grupo de pessoas confinadas por três meses numa casa, vivendo no mais absoluto ócio, com câmeras e microfones registrando cada gesto, cada palavra?

É um jogo, diz a Globo e repetem os telespectadores, e nele as pessoas são motivadas a se eliminarem umas às outras, na busca por um prêmio em dinheiro ou à fama instantânea, oferecida pela exposição massiva na telinha global.

            E assim o Big Brother reinventa o topa tudo por dinheiro.

O fenômeno é mundial. Há versões por toda parte, com poucas diferenças entre si. No Brasil, a Rede Globo comprou os direitos e já está na sua sétima temporada. No início, teve a concorrência do SBT, que colocou no ar uma versão meio pirata, chamada ‘Casa dos Artistas’, que teve vida curta.

            A Globo, com seu poder econômico, via grandes patrocinadores, e indiscutível qualidade técnica, encontrou em Pedro Bial a surpreendente cara do Big Brother. Jornalista dos mais competentes, dono de um texto sensível, poético, testemunha de momentos históricos como a queda do Muro de Berlim, ele colocou toda a sua credibilidade a serviço de uma casa ocupada por figuras permanentemente à beira de um ataque de nervos.

            Não deve ser fácil, apesar de, com certeza, bem remunerada, a tarefa do Pedro Bial...

            Essa versão do Big Brother, a 7ª, como disse, tem uma novidade; a Globo resolveu banir o Brasil. Só entraram os brother’s. Eu explico.

            Nas últimas versões havia a tradicional seleção dos participantes, segundo o padrão global. Mas alguns pobres mortais ganhavam o direito de entrar na casa pela porta dos fundos, através de um sorteio.

Para incômodo do padrão global, um Brasil nada Big e muito menos Brother acabava entrando na casa, trazendo grandes problemas. Houve até uma concorrente popular, mais Brasil que Big, que teve um pipiripaque grave de saúde, vejam só, e teve que sair da casa para um CTI.

Outro drama; além dos quilos a mais, completamente fora das medidas e mililitros necessários para o foco das câmeras invasoras, as Cidas, Maras, Agustinhos e outros tiverem o atrevimento de enfrentar os concorrentes sarados e sensuais e levaram a melhor. Pelo voto da platéia, roubaram a cena e levaram o prêmio para casa.

            Era Brasil demais para a Globo e ela resolveu, esse ano não correr riscos: Só entraram, repito, os brothers mais bigs, segundo, é claro, o padrão global.

            Corpos perfeitos, músculos desenhados em academias, olhos verdes, azuis, peles claras e morenas, cabelos de comercial de xampu, caras, bocas e outras partes, expostas aos espiadores de plantão.

            E tome festas e edredons. O Big Brother 7 assumiu de vez a cara ‘erótico-etílico-ficativa’, abrindo espaço até para um democrático triângulo amoroso. O pessoal se despe, bebe e todo mundo fica com todo mundo, ou com alguém, num exibicionismo que, aliás, é a tônica do programa. Tônica, no caso, com gim ou tequila. E tome vômito e ressaca.

            Dizem que essa versão do Big Brother é a mais erotizada até hoje. Curiosamente, até o ponto em que assisti (confesso que não tenho sido muito fiel...) é a que tem dado menos ibope. Será que o Brasil está se cansando de ser feito de bobo? Será que essa banalização do corpo humano, essa exposição gratuita e superficial dos nossos piores instintos, essa linguagem chula e de baixo calão, vão acabar fazendo os patrocinadores entenderem que quem financia a baixaria é contra a democracia?

O Pedro Bial, outro dia, pediu desculpas por estar fazendo filosofia de botequim. Eu também corro esse risco. Mas como educador, sem moralismos ou preconceitos, peço desculpas e pergunto: será esse o show de realidade que a TV tem a nos mostrar no horário nobre?

            Serão esses jovens sarados e sensuais, correndo atrás de grana e fama a qualquer custo, referenciais para a multidão de outros jovens brasileiros, sem perspectiva, sem futuro, sem direito sequer de sonhar?

            Com a palavra você, caro telespectador, senhor absoluto de um aparelhinho mágico chamado controle remoto...

 

Eduardo Machado

05/02/2007

 

 


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