|
Uma mãe chega ao consultório preocupada com o
descentramento do filho - dificuldade em se
concentrar, agitado e com fraco desempenho na
escola. Sintomas que a conduziram ao médico que o
diagnosticou de TDAH (Transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade). O objetivo, neste
particular, não é julgar o diagnóstico em si, mas
refletir sobre os fatores que podem favorecer a
falta de atenção e o excesso de ansiedade nas
crianças atuais.
O
mundo está cada vez mais inseguro e violento. Boa
parte da população vive estressada e insatisfeita. A
insatisfação, como a frustração, gera angústia e
ansiedade. Ansiedade aponta para o medo e a
insegurança. Nos lares contemporâneos nem sempre há
um clima onde crianças possam transitar e brincar de
forma tranqüila – explorando interesses e desejos.
|
O ato de brincar requer envolvimento - é mergulho na
fantasia. Fantasiar e brincar são complementares e
estruturantes do sujeito, requer ambiente propício para que
a criatividade se opere e promova a sexualidade e o
desenvolvimento psíquico. Num ambiente tenso, barulhento e
desarmônico entre pais e filhos, de desrespeito e desacato
às ordens familiares, dificilmente as crianças crescem e se
desenvolvem de forma equilibrada, serena. A chance do
descompasso dos pais refletirem nos filhos é grande - muitos
dormem e acordam ao som da TV ou de músicas barulhentas. Não
é por acaso que Bach, Beethoven e Mozart não são mais tão
apreciados. Vivemos a república do entretenimento.
No Brasil, os pais contam com uma sociedade de mercado
truculenta, uma TV mal regulamentada. É na lógica da cultura
e do consumo de massa que as famílias estão inseridas.
Muitas crianças crescem expostas aos modismos, circulando
pelos shoppings, distantes de uma proposta de civilização.
Toda família deve ter uma proposta clara para nela apoiar a
educação dos filhos. Educar é uma arte - requer sabedoria,
paciência e implicação. Se implicar é quando os pais se
convencem da importância, para a criança, de uma educação
orientada e regulamentada. Pais comprometidos com o futuro
do filho e sua felicidade não medem esforços em decidir:
qual escola matricular, amizades incentivar, alimentos
oferecer, programas de TV assistir. Quais atividades lúdicas
e de lazer propor aos filhos é desafio que a sociedade de
mercado nos coloca.
Educar é também ampliar as oportunidades de expansão da
criança no mundo, promovendo seu desenvolvimento intelectual
e psíquico como: literatura, teatro, museus, concertos e
shows. Cabe aos pais se informarem para, com sabedoria, ter
clareza em que mundo pretende inserir o filho – em quais
valores gostariam de formá-lo. Pais aflitos e estressados,
filhos hiperativos, irrequietos e sem lugar. Talvez a TDAH
(Déficit de atenção com hiperatividade), tão em moda nos
dias atuais, não passa, na maioria das vezes, de um sintoma
da sociedade de consumo, violenta e estressada. Lares
desorientados, barulhentos, alunos possivelmente
indisciplinados e irrequietos.
Embora não exista até o momento uma causa específica no
diagnóstico da TDAH, há uma tendência em atribuir às lesões
neurológicas, desconsiderando as questões emocionais que
podem provocar um desconforto, culminando em inquietação,
agitação. A mania phármakon revela uma tendência do uso
abusivo de medicalização. Sintomas como tristeza, muitas
vezes é diagnosticado como depressão, enquanto outros como
ansiedade, aflição, acabam sendo rotulados de hiperatividade.
Muitos pais, influenciados pela ambição psicofamacológica e
aflitos em nomear e aliviar o sofrimento, acabam
pressionando os médicos por um diagnóstico rápido.
Que tal os lares promoverem experiências que privilegiam e
viabilizam a concentração? Com certeza, as crianças, mais
tranqüilas, se iniciariam em brincadeiras, mergulhariam em
fantasias, embaladas em devaneios e viagens edificantes.
Contudo, lembramos que a infância é uma fase em que os
baixinhos estão expostos a muitos estímulos e se excitando
diante de situações diversas. Criança estimulada
dificilmente consegue ficar parada.
|