Por: *
Gabriel Perissé é doutor
em Educação pela USP e escritor.
Fonte:
Correio da Cidadania
Confesso que sou professor. Professor que gosta de ensinar
mais do que explicar. Sugerir mais do que proibir. Elogiar a
leitura mais do que a obrigatória tortura.
Gabriel Perissé*
Confesso e não nego que sou carioca. Da gema. Do bairro do
Estácio. E também do subúrbio carioca. Carioca do Rio
ex-capital. Da ex-Guanabara. Carioca apaulistado agora.
Carioca sem sotaque agora. Carioca descariocado agora.
Confesso que sou professor. Professor que gosta de ensinar
mais do que explicar. Sugerir mais do que proibir. Elogiar a
leitura mais do que a obrigatória tortura. Professor no
falar e no agir, no sorrir e no pensar, no calar e no
sentir.
Confesso que sou leitor compulsivo, fanático, inveterado.
Confesso que gasto dinheiro demais com os livros. Que sinto
prazer em entrar num sebo, numa livraria, numa biblioteca.
Que os livros são o meu tormento e o meu céu.
Confesso e não nego que sou escritor. Escritor escravo do
escrever. Escritor que passa o dia escrevendo mentalmente o
que há de escrever no papel ou na tela. Escritor que elogia
a leitura, o leitor criativo, a arte da palavra.
Confesso que sou católico. Católico por um triz. Que dorme
ao ouvir sermões cansativos. Católico apostólico romântico.
Católico sem eira nem beira, sem carteirinha, sem ligação
oficial com movimentos e outros elementos.
Confesso que gosto de falar. Na palestra, no debate, na
mesa-redonda, no palco, na padaria, no barbeiro. E gosto de
calar-me, recluir-me, fugir, enterrar-me vivo no meio dos
livros.
Confesso que não gosto de me confessar, de revelar quem sou,
o que faço, o que penso, em que acredito. Confesso que gosto
de me expor, contar o segredo, confidenciar, abrir o
coração.
Confesso que não gosto de futebol na terra do futebol. Que
não gosto de carnaval na terra do carnaval. Que não gosto de
praia na terra das muitas praias. Confesso e peço perdão.
Confesso que gosto do Brasil, com todas as suas… As nossas
contradições e limitações, sua carga tributária e suas
festas, seus políticos e seus apresentadores de TV, seu
calor e seu frio, sua seca e sua enchente, suas belezas e
misérias.
Confesso e não nego que muito pouco do Brasil conheço, mas
guardo com carinho um caminhar nas calçadas de Manaus, uma
partida de xadrez nas calçadas de Florianópolis, rápidos
passeios de carro nas ruas de Porto Alegre, Campo Grande,
Natal, Belo Horizonte, Recife, Curitiba, Campinas, Ribeirão
Preto, Bauru, São Luís, Salvador, Palmas…
Confesso. Não nego. Confesso dizer a verdade. E um pouco
mais do que isso.
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