02/01/2009
Por *Sandra
Regina da Luz Inácio
Conforme passo
pelas empresas, percebo que a maioria dos empresários não
enxergam suas empresas ou fantasiam algo que eles gostariam
que ela fosse, mas na realidade não é.
Eles olham, mas não enxergam realmente… não questionam… a
visão é presente, mas a percepção é ausente. Se a vida fosse
uma obra de arte, veriam as cores, mas não a genialidade das
pinceladas. Se fosse uma viagem, notariam a estrada, mas não
a paisagem. Se fosse um poema, leriam o que está escrito,
mas jamais o que está por trás das palavras.
Falta de visão não significa falta de inteligência, ao
contrário, muitas vezes as pessoas mais inteligentes é que
não conseguem enxergar as coisas como realmente são e
discernir entre o que realmente querem ou o que a sociedade
querem para elas.
As pessoas sem perspicácia vivem no reino do óbvio… do
esperado… do essencial... do dia-a-dia. As dimensões que as
interessam são compridas e largas, mas não profundas, não
porque elas não consigam, mas porque não querem se
aprofundar.
Adquirimos conhecimentos espantosos sobre o mundo físico,
biológico, psicológico, sociológico. A ciência impõe cada
vez mais os métodos de verificação empírica e lógica. As
luzes da Razão parecem rejeitar nos antros do espírito mitos
e trevas. E, no entanto, por toda a parte, o erro, a
ignorância, a cegueira, progridem ao mesmo tempo em que os
nossos conhecimentos.
Principais causas da cegueira organizacional:
1. A causa profunda do erro não está na falsa de percepção
ou no erro lógico (incoerência), mas no modo de organização
do nosso saber em sistema de idéias (teorias, ideologias);
2. Existe uma ignorância ligada ao desenvolvimento da
própria administração como ciência;
3. Existe cegueira ligada ao uso degradado da razão;
4. As ameaças mais graves em que a Humanidade incorre estão
ligadas ao progresso cego e descontrolado do conhecimento
(manipulações de todas as espécies, ego, ganância, o TER ser
mais importante que o SER, desequilíbrio ecológico, etc.).
5. Nosso cérebro trabalha por repetição, sendo muito difícil
a criatividade, isto é tomar decisões inovadoras e
principalmente vermos o “futuro” que assusta-nos de muitas
formas, pois o novo é de difícil assimilação, seja no
profissional, pessoal ou em qualquer área que atuamos.
A Doença do Saber
Ao separar o sujeito pensante e a coisa extensa, quer dizer,
filosofia e ciência, e ao colocar corno princípio de verdade
as idéias, ou seja, o próprio pensamento disjuntivo. Tal
disjunção, rareando as comunicações entre o conhecimento
científico e a reflexão filosófica, devia finalmente privar
a ciência de qualquer possibilidade de se conhecer, de se
refletir e mesmo de se conceber a si própria
cientificamente. Mais ainda, o princípio da disjunção isolou
radicalmente uns dos outros os três grandes campos do
conhecimento científico: a física, a biologia, a ciência do
homem.
O conhecimento baseava necessariamente o seu rigor e a sua
operacionalidade na medida e no cálculo; mas, cada vez mais,
a matematização e a formalização desintegraram os seres e os
existentes para apenas considerarem como únicas realidades
as fórmulas e equações que governam as entidades
quantificadas. Finalmente, o pensamento simplificador é
incapaz de conceber a conjunção do uno e do múltiplo: ou
ainda unifica abstratamente ao anular a diversidade, ou,
pelo contrário, justapõe a diversidade sem conceber a
unidade.
Assim, chega-se à inteligência cega. A inteligência cega
destrói os conjuntos e as totalidades, isola todos os
objetos daquilo que os envolve. Não pode conceber o elo
inseparável entre o observador e a coisa observada. As
realidades chave são desconsideradas. E os pedantes cegos
concluem daí que o homem não tem existência, senão ilusória.
Enquanto o meio em que vivemos produz o baixo cretinismo, a
Universidade produz o alto cretinismo. A metodologia
dominante produz um obscurantismo acrescido, uma vez que já
não há associação entre os elementos disjuntivos do saber,
já não há possibilidade de reuni-los e de refletir sobre
eles.
O papel do cérebro humano
As neurociências nos remetem a temas distintos, porém
interdependentes, como memória, cognição, consciência
(ligada ao conhecimento) e comportamento - elementos que nos
levam a discussões sobre a concepção da mente e,
conseqüentemente, dos seus distúrbios e sua limitação quanto
ao saber.
Diante da complexidade de tais conexões, as neurotecnologias
e os conflitos prático-discursivos delas provenientes para a
psiquiatria, a psicanálise, a psicologia cognitiva, a
teologia e outras ciências, ecoam em áreas sociais sem
fronteiras estanques, passando pela medicina, educação,
estrutura familiar, religião e mídia.
Os novos dados obtidos sobre as funções cerebrais promovem a
necessidade de uma revisão sobre "o sentimento de nós
próprios" e principalmente como vemos as empresas e as
pessoas que nelas trabalham. As idéias sobre a evolução do
cérebro incluem conceitos relacionados com a cognição
social, existindo uma consciência crescente de que a moral e
a consciência estão intimamente associadas ao cérebro das
emoções, que processa sinais de recompensa e de castigo,
podendo ser, para alguns neurocientistas a evolução da
ética.
Outro aspecto da neuroética são as implicações do
conhecimento das funções cerebrais para a sociedade, isto é,
construir um conhecimento capaz de organizar e ilustrar
adequadamente a sociedade: afinal, como conciliar os saberes
provenientes das investigações em neurociências de modo que
a sociedade funcione de forma estável sem afetar a liberdade
das pessoas.
Nas sinapses (O cérebro funciona através de neurônios que se
ligam uns aos outros, em conexões), ocorrem várias funções.
Chegam os impulsos elétricos gerados pelos próprios
neurônios até a terminação de uma célula nervosa, seu
axônio. Nesse setor são liberados neurotransmissores como
conseqüência dos impulsos elétricos e esses
neurotransmissores são substâncias que se ligam com as
membranas das células seguintes, que se denominam
receptores. Assim, um neurônio se conecta com o outro para o
funcionamento básico do cérebro. Cada região do cérebro atua
de maneira distinta, pois existem inúmeras conexões e cada
neurônio se liga com dez mil outros, ou mais.
A mente humana tem a capacidade de perceber a existência de
uma interação do corpo com o meio ambiente, e que ela pode
reagir com base nos dados que o corpo colhe por meio de
sensações, percepções e emoções internas e externas.
Levantou a hipótese que as emoções têm papel determinante no
processo de decisão e que o que chamamos de "consciência" é
o fruto de tudo isto.
Devemos estar conscientes de nossa liberdade e da nossa
responsabilidade, pois só assim seremos capazes de subsistir
como espécie. A crítica ao mundo cultural do século XXI como
desumanizante e destrutivo deve-se basear, antes de tudo, em
conhecimento fenomenológico da nossa experiência perceptiva.
O que as descobertas sobre o cérebro acarretam à sociedade
A técnica de imaginologia cerebral permite saber quando uma
pessoa está mentindo, confundindo memórias falsas com
memórias verdadeiras; é possível diagnosticar motivações
comportamentais e crenças. O poder de obter este tipo de
informação levanta a questão da legitimidade de intervir
para "regular", "controlar" e "prevenir”.
As principais implicações dos avanços das neurociências na
sociedade contemporânea é que a ciência nem sempre promovem
justiça, paz, solidariedade, bem-estar, equidade, liberdade,
saúde e a cultura. Estes critérios apontam para o campo dos
valores, em particular para a ética dos métodos
neurobiológicos aplicáveis ao ensino e à aprendizagem.
A visão clássica da condição humana é renovada: atualmente a
"essência" do sujeito parece residir na sua "informação" -
seja genética ou neural. Trata-se de dados que fazem de cada
sujeito um indivíduo singular.
Se observarmos o grande sonho que norteia tanto as
neurociências como a engenharia genética, veremos que essas
"novas ciências da vida" procuram desvendar os códigos, os
sinais e os circuitos pelos quais trafega a informação vital
dos seres humanos. Os objetivos
comuns a ambos os tipos de saber consistem em acessar essa
'verdade' (traduzida em informação digital ou digitalizável)
para eventualmente poder manipulá-la à vontade, corrigindo
eventuais "defeitos" e efetuando diversos "ajustes".
O ser humano não é um ser moral por natureza, mas precisa
ser educado para a moralidade. O comportamento natural do
ser humano é de início, egocêntrico (Piaget), no sentido de
que, em princípio, são sempre necessidades individuais que
têm prevalência e orientam o agir das pessoas.
Os objetivos éticos são indispensáveis para qualquer teoria
da educação, porquanto é a idéia de ideal humano, isto é, a
imagem do que e como o homem deve ser que decide sobre os
conteúdos da educação e suas formas de transmissão. O
educador deve contribuir para a formação de sujeitos
conscientes e autônomos, capazes de decidir que atitudes
devem tomar. A educação deve buscar um caminho pessoal para
uma vida consciente e responsável quanto aos interesses
tanto individuais quanto sociais.
A relação recíproca eu-tu gera comportamentos que se
cristalizam na norma. Esta precisa retornar à sua origem, à
relação eu-tu. Assim, fecha-se o círculo. As normas dadas e
datadas são superadas pelos novos eventos. Por isso,
precisam renovar-se à luz das novas relações humanas, das
descobertas científicas, dos novos avanços da técnica e da
cultura para que possamos aplica-las não somente nas
empresas, mas em nossas vidas pessoais, espirituais, etc.
Infelizmente, as pesquisas dos neurocientistas não são
realizadas com neutralidade, pois são influenciadas por
interesses institucionais, condições financeiras para sua
realização ou pelo posicionamento político ou religioso.
Tenho certeza que quando muitas respostas forem dadas pela
neurociência, podemos com certeza sermos mais criativos e
enfrentarmos melhor todos os desafios.
Quem sabe ai poderemos enxergar a organização como realmente
ela é e principalmente sabermos exatamente o que deveremos
fazer para que ela seja duradoura.
* Sobre o Autor
•PhD em Administração de Empresas pela Flórida Christian
University (EUA) •PhD em Psicologia Clínica pela Flórida
Christian University (EUA) •Psicanalista e Diretora de
Assessoria Geral da Sociedade de Psicanálise Transcendental.
•Mestre em Administração de Empresas pela USP. •Especialista
em Estratégias de Marketing em Turismo e Hotelaria pela USP,
MBA em Gestão de Pessoas e Especialista em Informática
Gerencial. •Psicanalista voluntária na Casa de Apoio à
Criança Carente com Câncer e na Universidade da Terceira
Idade. •Professora da FGV do Rio de Janeiro e de mais 03
universidades. •Empresária no ramo moveleiro •Responsável e
Membro do Conselho Editorial da Revista Empresa Familiar.
•Coordenadora do grupo de Excelência de Empresa Familiar do
Conselho Regional de Administração de São Paulo - CRA.
•Diretora da DS Consultoria S/S Ltda, especializada em
Empresas Familiares. •Conciliadora, Mediadora e Árbitra
Empresarial. •Membro do Conselho Editorial e responsável
pela Revista Empresa Familiar. •Autora do livro O Perfil do
Empreendedor e co-autora do livro Empresa Familiar:
Conflitos e Soluções, juntamente com Domingos Ricca, Roberto
Gonzalez e José Bernardo Enéas Oliveira. •Vários artigos
publicados na área de Administração, Tecnologia da
Informação e Psicanálise em revistas especializadas.
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