17 | 11 | 2008 17.13H
Joana e Tomás são dois jovens que sofrem de dislexia.
Sentem-se diferentes porque olham para eles de outra
maneira. Estes dois jovens contaram ao Destak a sua
experiência que se confunde com a história da sua vida
escolar.
INÊS CARRANCA
“Sinto-me diferente porque me sinto inferior aos outros”.
Joana tem 17 anos e sofre de dislexia, um problema que afeta
10% a 15% da população escolar. A dislexia é uma dificuldade
de aprendizagem a nível da escrita, da leitura, da
ortografia e da matemática, muitas vezes associada a uma
capacidade mental inferior. Mas a verdade, é que os
disléxicos possuem, na sua maioria, um quociente de
inteligência superior à média normal. Grandes gênios da
nossa história sofriam de dislexia como Albert Einstein,
Pablo Picasso, Winston Churchill, entre outros.
O
disléxico usa o pensamento não-verbal, ou seja, o
significado da linguagem é feito através da construção de
imagens mentais que irão resultar em conceitos e idéias. “À
medida que vou lendo o texto em vez de me focar nas
palavras, vou traçando o sentido do texto através de
imagens. As imagens traduzem-me as palavras”.
Para Joana a dislexia é um tabu. Faz questão que o seu
círculo de amigos não saiba que tem esta dificuldade. A
dislexia foi-lhe diagnosticada por volta do 3º ano. Os pais
notavam dificuldades na leitura, na escrita e principalmente
na matemática. A Joana “não diferenciava o sinal “+” do
sinal “-“ nem o sinal > (maior) do sinal < (menor)” diz
Maria, a mãe de Joana. “Era desinteressada e não se
concentrava por mais de cinco minutos porque como não
entendia o que muitos trabalhos de casa ou testes lhe
pediam, deixava de se preocupar”.
Confrontada com o problema, a professora limitava-se a não
compreender a dificuldade e “fazia de propósito perguntas
sabendo perfeitamente que derivado ao meu problema,
principalmente com a matemática, eu não sabia responder”,
recorda Joana. “Chamava-me constantemente burra e fazia
questão de mostrar perante a turma toda que eu sabia menos
que os outros”.
A
falta de informação e formação dos professores fazem passar
casos de dislexia em branco e o rótulo dado ao aluno é o de
insucesso escolar. O Ministério da Educação não investe na
formação dos professores e os próprios desinteressam-se por
saber mais. O artigo 319º protege crianças que sofram de
dislexia, deficiência mental, auditiva, visual e motora,
dando a estas crianças benefícios no processo de avaliação.
Num colégio que freqüentou Joana não pôde estar ao abrigo
deste artigo porque o colégio não aceitava. Por ser assim, a
Joana tinha na turma mais de 20 colegas, não tinha tempo
extra para fazer os testes nem a atenção educativa a que tem
direito por ser disléxica.
Quando interrogada sobre o problema da dislexia e os
mecanismos de resposta do Ministério da Educação, uma
professora do secundário pertencente ao gabinete de ensino
especial da DREL (Direção Regional de Ensino de Lisboa),
refugiou-se no artigo 319º e explicou as dificuldades e as
respostas que são dadas aos deficientes mentais, auditivos,
visuais e motores deixando fora das suas explicações as
crianças disléxicas.
De 25 alunos de uma turma, três têm probabilidades de serem
disléxicos. “No geral, a formação dos professores nesta
matéria é muito insuficiente e as escolas não têm condições
para lidar com a dislexia, o que é dramático”, afirma Helena
Serra, a vice-presidente da APDIS (Associação Portuguesa de
Dislexia).
A
resposta do Ministério da Educação aos casos de dislexia
baseia-se no artigo 319º onde, entre algumas cláusulas, é
dado mais tempo ao aluno para executar um teste de
avaliação, os parâmetros de avaliação são diferentes e as
turmas são encurtadas para que o professor possa dar mais
atenção ao aluno com dislexia.
Tomás, 17 anos, também sofre de dislexia. Diz que não se
sente diferente mas que “os professores encarregam-se disso.
É difícil para os próprios professores acreditarem que
alguém é diferente dos outros”. Quando lhe foi diagnosticada
dislexia, os pais transmitiram à escola o problema de
aprendizagem que o Tomás tinha. A solução que a escola
encontrou foi eliminar os intervalos que supostamente eram
para espairecer e brincar. “Enquanto os outros iam brincar,
eu ficava a trabalhar para compensar aquela falha, a
dislexia”.
No caso da Joana, a professora não soube interpretar as
dificuldades da criança, tendo como resposta para o
insucesso o adjetivo “burra”. No caso do Tomás os
professores diziam que “o problema era a falta de estudo e a
rebeldia. E que a dislexia era uma desculpa para as minhas
asneiras”.
Os principiais sinais de alarme são, no principio, o começar
a falar tarde ou escrever o nome em espelho. Mas os sinais
tornam-se mais evidentes quando a criança começa a aprender
a ler e a escrever e demonstra, por exemplo, lentidão na
aprendizagem dos mecanismos da leitura e da escrita,
dificuldades na leitura, inventando palavras ao ler um texto
ou ao escrever com muitos erros ortográficos.
A
Joana e o Tomás freqüentam, atualmente, o décimo segundo e o
primeiro ano da faculdade respectivamente e são adolescentes
conscientes do problema que têm. São acompanhados em sessões
semanais por uma psicopedagoga que lhes ensina de uma
maneira própria a matéria que têm para aprender.
Uma ajuda fundamental para que os outros não sintam a
diferença deles.
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