Por Márcia Neder
Diretora de redação da revista Cláudia
A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o
passar do tempo. Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista
essa frase
e ela sempre me soou estranha. Até agora. Agora que minha
filha
adolescente, aos quase 18 anos, começa a dar vôos-solo.
Chegou a hora
de reprimir de vez o impulso natural materno de querer
colocar a cria
embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e
perigos. Uma
batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na
luta para
controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro
logo da
frase, hoje absolutamente clara. Se eu fiz o meu trabalho
direito,
tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada venha me acusar de desamor,
preciso explicar o que significa isso. Ser 'desnecessária' é
não
deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá,
provoque
vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de
eles não
conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes.
Prontos para
traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas
frustrações e
cometer os próprios erros também. A cada fase da vida, vamos
cortando
e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova
perda é um
novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o amor é
um
processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de
se
transformar ao longo da vida.
Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a
própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é
ter certeza
de que estamos lá, firmes, na concordância ou na
divergência, no
sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego,
o abraço
apertado, o conforto nas horas difíceis.
Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres.
Esse
é o maior desafio e a principal missão. Ao aprendermos a ser
'desnecessários', nos transformamos em porto seguro para
quando eles
decidirem atracar.
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