Na quarta-feira 3 de maio, o
IPLA recebeu psiquiatras, educadores, juristas, geneticistas,
além de psicanalistas para debater Mídia e Comportamento. A
casa estava lotada e o debate foi acalorado.
Jorge Forbes coordenou o
debate. A sua fala está aqui resumida:
É importante denunciar,
avisar que está se passando um fenômeno no qual estamos
sendo cúmplices. Houve uma mudança. Uma mudança de um mundo
organizado verticalmente, onde se sabia como namorar, como
casar, ter e criar filhos. Enfim, bem ou mal, certo ou
errado, havia uma série de padrões em que as pessoas eram
favoráveis ou contra. Tínhamos o mundo dos “alienados”e o
mundo dos “rebeldes”. Era um mundo em que um gênio chamado
Sigmund Freud, que comemora nesta semana o sesquicentenário
de seu nascimento, teve a capacidade de captar a
estruturação desse homem num modelo vertical, chamado
Edípico. Freud inventou um mito do Édipo, dizendo que todo o
resto é decorrência de uma pessoa, um ser humano que, se
sentindo longe do mundo que perdeu, precisa de um
intermediário, como um barqueiro que o transporta para a
outra margem do rio e nesse barquinho tem a vela do pai.
Houve uma mudança importante nos últimos anos onde um dos
fatores mais fundamentais é que esse eixo vertical não
existe mais. E para lidar com essa mudança, não suportando o
que ocorre, existe uma cumplicidade entre controlador e
controlado. Há uma pluralidade de ideais e ninguém mais pode
se apresentar como o grande barqueiro, o grande timoneiro.
É necessário hoje que as pessoas façam escolhas todos os
dias sobre o que elas querem e perceber se realmente querem
o que desejam. Isso é muito difícil, normalmente se quer o
que não se deseja. Estamos, neste momento, frente a duas
possibilidades:
1) Avançamos fazendo uma invenção no mundo ou
2) Retrocedemos e inventamos novas representações verticais
que nos assegurem nossas escolhas nos protejam da angústia
insuportável da escolha.
Essa segunda alternativa propicia a criação de novos deuses,
a neo-religião ou a tentativa de cientifização do correto
com receitas contraditórias.
Entendemos que devemos convocar a imprensa para dizer que
ela pode estar cúmplice nesse processo. Por isso teremos
nesse Fórum “A Psicanálise versus A Sociedade de Controle”
três temas a serem debatidos: “Mídia e Comportamento”, “Você
quer mesmo ser avaliado?” e “Como suportar não ser
controlado?”.
Temos que entender e nos posicionar. A idéia não é
aprofundar a discussão, pois o aprofundamento não significa
melhor conhecimento. A cada aprofundamento há um novo tipo
de ignorância. Fazer medições e políticas de saúde na base
do custo-benefício é ficar numa topologia ultrapassada,
cartesiana, de um mundo que não existe mais. Existe uma
ética na escolha humana que diferencia o homem dos outros
animais. Macacos por exemplo, não precisam de ética; eles
sabem como ser. O homem, ao contrário, se quiser viver nessa
ética e arriscar-se numa invenção, terá que escolher sem
garantias de um saber e responsabilizar-se por sua escolha.
Para ter um resumo do que
foi tratado nessa noite, clique no link abaixo e leia a
matéria de Rodrigo Abrantes.
http://www.jorgeforbes.com.br/br/contents.asp?s=22&i=63
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