Educar é
...
Por :
Revista Profissão Mestre
Redação.
A convidada deste mês para falar sobre educação é Milu Villela,
presidente do Instituto Faça Parte, do MASP, do Centro de Voluntariado
de São Paulo, da Associação Comunitária Despertar e embaixadora da Boa
Vontade da Unesco. Além disso, está engajada no Compromisso Todos Pela
Educação, movimento que tem como meta dar acesso ao ensino público de
qualidade a todas as crianças e adolescentes brasileiros até 2022.
PM - Na sua opinião, o que é educar?
MV - Poucos atos são mais transformadores do que o de educar –
para quem educa, para quem é educado e para o país. Se houvesse uma
consciência em relação a isso, a classe de professores seria uma das
mais respeitadas e a educação estaria na condição de política pública
preferencial. Quando penso no que é educar, lembro de uma frase dita por
Paulo Freire: “Educar é um ato de amor e para educar crianças é
necessário, sobretudo, amá-las profundamente.” Acredito nisso também. E
é daí que vem a minha paixão pela educação, a fonte da minha energia
para trabalhar no Compromisso Todos Pela Educação.
PM - O que você acredita estar certo ou errado na escola brasileira?
MV - É inegável que, especialmente na última década, avançamos no
que se refere à universalização do acesso ao ensino público. Mas ainda
temos algo em torno de 800 mil pessoas fora da escola, o que é
inadmissível. O maior acesso gerou uma sobrecarga e um inchaço do
sistema de ensino público, que não estava preparado para atender ao
aumento da demanda. O resultado é a falta de qualidade na educação.
Exames revelam que o aluno brasileiro aprende mal. Isso porque alguns
fatores da qualidade da educação não estão contemplados. Por outro lado,
o MEC e o UNICEF listaram 36 escolas públicas de regiões pobres que
mostraram no Prova Brasil um excelente nível de qualidade. Após um
estudo detalhado, mostrarão porque elas atingiram tal nível. São boas
ações e devem ser reconhecidas.
PM - De que maneira a escola pode melhorar?
MV - O primeiro passo é tornar a educação básica objeto de
política pública prioritária no Brasil. Até a década de 60, Brasil,
Coréia e China tinham níveis de educação semelhantes. Hoje, esses países
estão muito à nossa frente e, não por acaso, atingiram um estágio de
desenvolvimento impressionante. Nações como Espanha, Irlanda e Chile
também fizeram a lição de casa e hoje ocupam uma posição de destaque no
ranking dos melhores sistemas de ensino do mundo. Temos o que aprender
com elas. Outros passos são ampliar o investimento, melhorar a
infra-estrutura, desenvolver e aplicar métodos pedagógicos modernos,
preparar e motivar os professores, ampliar o turno escolar, garantir o
acesso, melhorar a gestão e incentivar a participação de pais e
comunidade no processo de educação dos filhos.
PM - De que forma as organizações sociais podem ajudar a escola a
melhorar a qualidade do ensino oferecido às novas gerações?
MV - As organizações especializadas em educação têm um papel
fundamental. Como são normalmente pequenas, ágeis e especializadas
compensam o alcance de sua atuação, quase sempre limitado, com um
trabalho que reúne – a partir da competência técnica de seus integrantes
– uma incrível capacidade de inovação e experimentação que o Estado não
tem. Acompanho o bom trabalho desenvolvido por essas organizações no
apoio à implantação de novas abordagens pedagógicas, capacitação de
professores, gestão escolar e incentivo à participação de pais e
comunidades. São aliadas da educação, mas sua atuação precisa ganhar
escala. E para isso elas precisam ser reconhecidas pelo governo.
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