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EDUCAÇÃO
E PSICANÁLISE: VAZIO EXISTENCIAL – UMA
INTERLOCUÇÃO POSSÍVEL
Jane Patricia Haddad |
“Educação e
psicanálise: vazio existencial – uma interlocução
possível”, é o tema que você escolheu para o 8°
Congresso Brasileiro de Psicopedagogia em São Paulo.
Qual é a importância da psicanálise para o
psicopedagogo?
A
Psicanálise nos possibilita perceber que não há
apenas um entendimento, uma forma de se perceber uma
dificuldade e sim vários olhares sobre um sujeito é
preciso sair do senso comum , querer explicar tudo
de forma simplista.
Tantos “problemas de aprendizagem” não estaria
ligados a falta de sentido em apreender?
Eu pessoalmente, não consigo atuar na Clínica sem
uma escuta sensível para além de diagnósticos
limitantes .
Nós psicopedagogos diariamente somos convocados a
trabalhar com crianças e jovens rotulados por um
sistema educacional que ainda nos impõem um único
tipo de aluno para um único sistema educacional
padronizado que responda ao desejo do Outro .
Não há tantas respostas prontas e acabadas como
estamos acreditando, o que há é um rapidez em
“fechar” diagnósticos e responder a angustia da
família e da escola. Não acredito que as
dificuldades de aprendizagem estão sempre ligadas ao
potencial cognitivo da criança.
Por que você escolheu
este tema?
Acredito
que sempre partimos das nossas próprias experiências
e como aluna sempre fui considerada indisciplinada,
hiperativa e diferente, passaram –se quase 40 anos e
continuo escutando o mesmo discurso só que hoje sou
uma especialista em constante formação para tentar
de algum lugar facilitar a comunicação entre as
diversas instituições que envolve uma criança .
Ao escolher este tema, tenho a pretensão de provocar
novos olhares sobre discursos contraditórios que
continua ameaçando nossas crianças e jovens.
Tenho o intuito de provocar uma (re)leitura do
presente e uma mudança de discurso e postura frente
a tantos desafios que a sociedade nos impõem.
A inquietação que paira nas escolas, famílias e
consultórios sobre o processo ensino aprendizagem
pode ser a energia que faltava para (re) pensar
novas intervenções . Freud já nos alertava em seu
texto: O Mal estar na Civilização: “ O mundo nos
adoece, quando somos impedidos de simbolizar nosso
mal estar” . A Educação precisa fazer uma
interlocução real com as outras áreas sem perder sem
perder sua identidade que sirva de eixo para todos
os envolvidos no processo.
Qual a relação entre
educação e psicanálise?
É uma possibilidade de entendermos que não é
possível saber tudo , não há padrões únicos e sim
sujeitos únicos. Quem sou eu? Quem é meu aluno?
Entre eu e o outro existe um mundo de subjetividades
que não é contemplado na escola; o não saber ( ditos
fracasso Escolar) nem sempre está relacionado a
“inteligência” e sim a forma em que se estabelece o
vínculo;sujeito-sujeito; professor aluno. A forma
com que esta criança interagiu e interage com os
adultos fará a diferença na relação com o Saber, a
criança precisa confiar nos adultos para que ela
possa aprender e apropriar-se do conhecimento. Saber
é primeiro saber de si para que depois a criança
sinta-se autorizada a saber do outro e do mundo. O
que é aprendizagem contemplando apenas a Pedagogia
Qual a importância na
relação escola/professor – aluno/família?
O Professor quando ingressa em uma escola ele deve
lembrar-se de que ele trás sua história pessoal que
se encontrará com diversas histórias. O Projeto
Político Pedagógico também deve ser conhecido por
todos os envolvidos no processo da criança. Os
princípios da família deve ir de encontro aos
escola. Acriança quando ingressa na escola , ela é
fruto de uma família, que por sua vez, está inserida
em uma sociedade que vem substituindo a tradição da
história pela valorização do indivíduo e do prazer
imediato o que naturalmente desencadeará um conflito
já que está criança não terá todos seus desejos
satisfeitos imediatamente.
Escola-família;professor-aluno precisam em primeiro
lugar criar condições de confiabilidade.
Onde e como entra a psicanálise nestas relações?
A Psicanálise nos possibilita perceber que não há
culpados por isto ou aquilo, se os pais erram na
forma de educar seus filhos não é porque são ruins
.Antes de ser pai-mãe-professor, há ali um sujeito
que trás sua própria história marcada por
experiências nem sempre elaboradas e faladas. A
subjetividade é matriculada na escola junto com os
ditos conteúdos, livros didáticos,fora-aula,provas
que devem ser “vencidos” em tempo Record. Onde
entra a relação sujeito-sujeito na escola? E o aluno
que não corresponde a este tempo estabelecido? De
quem é a culpa? Escola culpa a família X Família
culpa a Escola... A Psicanálise deve estar atuando
aí; não há culpados e sim co responsáveis por aquela
criança que não consegue aprender? É preciso recriar
as relações e a Escola.
Como a psicanálise vê
o “Fracasso Escolar” e os problemas de aprendizagem?
A “Problemas de aprendizagem”, junto com a
indisciplina e violência escolar vem sendo
classificada mais uma vez no senso comum e no campo
educacional por “Fracasso escolar”. O que percebo é
há um recado por parte das crianças e jovens
endereçado aos adultos: eles não estariam de alguma
forma nos “endereçando” um protesto em forma de
fracasso escolar para que repensemos sobre o como
estamos fazendo educação e de que forma estamos
construindo nossas relações, ou seja mediando
conhecimento-sujeito?
Só há sentido em aprender se houver uma autorização
por parte de quem aprende.
Eu me pergunto por que, às vezes, o desejo de saber
, não se manifesta em nossos alunos?
Acredito muito nesta
geração que ai está e para que possamos enxergá-la é
preciso escutarmos sem os ruídos de achismos e
jargões é preciso buscar novas formas , re inventar
e estudar processos de desenvolvimento humano. De
que forma podemos mediar conhecimentos diante de um
mundo marcado pelo excesso de informação circulante?
O que é essencial que meu aluno aprenda? De que
forma desperto nele o desejo para o saber? Não
poderia estar aí a grande chave de tantos Fracassos
não só escolar mas o fracasso na vida?
Quando ocorre o vazio
existencial?
Na minha opinião desde que nascemos, somos retirados
“brutalmente” do útero materno por onde vivemos ali
por um tempo, quentinho e seguro; de repente somos
arrancados de lá, separados de nosso porto seguro
para habitar neste mundão frio, onde a partir
daquele momento acontece uma sucessão de separações
e perdas; começando por aquela em que eu bebe se
percebe separado de sua mãe. O Vazio existencial é
para sempre; jamais seremos completos, este é o
grande vazio existencial; somos seres incompletos
sempre. O que nos move é a insatisfação, o desejo de
sempre querer melhorar; o dia que não tenho mais
desejos estou morto.
Não estaria a nossa Educação fixada em um VAZIO
EXISTENCIAL?
Em sua opinião,
atualmente qual é maior obstáculo da Educação?
O grande desafio é começarmos a aceitar de que o
mundo mudou e com ele A meu ver é preciso
refletirmos sobre o como estamos fazendo educação,
há todo um contexto de Psicanálise e Educação a ser
estudado e pesquisado, uma interlocução possível de
passarmos a escutar os “apelos silenciosos” que
estamos deparando na educação como; fracasso
escolar,indisciplina,desmotivação de professores e
alunos e tantos outros obstáculos.
É preciso refletirmos quem somos nos nossos desejos
, porque nos tornamos educadores e de que forma
estamos atuando na educação para que possamos
começar a remover nossas barreiras internas de um
senso comum que vem tomando conta da educação do
tipo: nenhum aluno quer nada com nada, as famílias
delegam para escola o que é função deles, o
professor é uma vítima do sistema e assim seguimos
reproduzindo um discurso vazio de significado sem
buscarmos uma solução para tantos desencontros.
Como você define
“Educação”?
Educação é um processo constante de transformação,
onde cada um é mobilizado a querer saber mais, saber
de si para saber do mundo, buscar estratégias para
novos problemas e sucessivamente deparar-se com
questões novas.
Educar é um processo de tornar-se melhor sempre
comparado consigo mesmo, atuar no mundo de uma forma
consciente de seu papel, responsabilizando-se por
seus atos. Educar é olhar para além daquilo que se
percebe e ter metas de onde se quer chegar.
Que mensagem deixa aos
congressistas, participantes e a todos os
psicopedagogos?
“ Somente alguém que possa sondar as mentes das
crianças será capaz de educá-las, e nós, pessoas
adultas, não podemos entender as crianças porque não
mais entendemos a nossa própria infância. Nossa
amnésia infantil prova que nos tornamos estranhos à
nossa infância” ( Freud, 1900).
Façam um exercício diário de suas escolhas e
lembrem-se: Nós temos escolha continuar ou não em
nossa profissão , se optamos em continuar é preciso
indagarmos de que forma poderemos transformar nossa
prática para que a Educação volte a ser respeitada
começando por nós.
O Congresso acontecerá
na UNIP – Unidade Vergueiro em São Paulo na data de
09 a 11 de julho de 2009.
Publicado em 28/05/2009 10:44:00
Jane Patricia Haddad - Natural de São
Paulo e residente em Belo Horizonte há 18 anos.
Formada em Pedagogia pela Pontíficia Universidade
Católica de Minas Gerais, com Especialização em
Psicopedagogia pela UNI-BH e Docência do Ensino
Superior pela Newton de Paiva e formação em
Psicanálise. Palestrante e Consultora. Ministra
aulas no Curso de Psicopedagogia na UNI-BH como
Professora convidada. Autora do livro: Educação e
Psicanálise:valor existencial lançado em 2008 pela
editora WAK. Lançará em julho deste ano seu segundo
livro:O Que Quer a Escola?Novos Olhares/Novas
Práticas também pela editora WAK.
http://www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?
entrID=113 |