MESTRADO: UM OLHAR PARA ALÉM DO TEMPO
Jane Patricia Haddad
(...) Tempo sustentável é um tempo de sobrevivência, ele é quem vai consolidar as novas atitudes internas como atores importantes para sustentabilidade. O tempo sustentável é o tempo de todos nós, da humanidade.
É um tempo de sobrevivência” *Antonio Claret
Quando você decide abrir a mente, estudar mais, percorrer lugares jamais visitados na escola, graduação, e uma coleção de pós... e cursos. Percebe o quanto você permaneceu no seu “mundinho”, por falta de tempo.
Quando você decide abrir os olhos, percebe que eles estavam apenas entre abertos. Apenas seguíamos, olhando sem ver, sobrevivendo em um tempo sem tempo.
Quantos atalhos foram ignorados? A certeza do caminho certo, aprendido e incorporado sempre guia.
Nos últimos meses, desde que fiz uma nova escolha, viver e sentir um Mestrado, o outro caminho, o caminho do incerto, da pesquisa, da hipótese, dos enigmas a serem desvendados. O caminho, em aberto. Transição, aprendizado constante, ora constante até de mais.
Tudo e quase todos parecem estranhos, começando por nós mesmo.
Um caminho escolhido sem saber aonde vai levar.
Percorrer atalhos, e longos caminhos, antes evitados, por medo de encontrar “EGOS” inflados e desumanos. Recorro novamente, a citação.
(...) o tempo sustentável é o tempo de todos nós, da humanidade. “É um tempo de sobrevivência”. Egos inflados existem dentro e fora da Universidade, basta ser humano. O tempo nos ensina a suspender juízo de valor, crenças e ilusões. Compreender a trajetória de cada um possibilita
Encontrar pessoas diferentes, mestres e doutores, também humanos. Hoje, percebo, o medo de enfrentar os “egos” era uma desculpa, que encontrei para não seguir. Passou, sigo em frente.
Não sou mais a mesma, e ainda não sei quem sou. Isto porque não reconheço mais quem eu era “ainda”, minhas verdades já não são mais minhas.
Fazer escolhas é rever conceitos e possibilitar novos reposicionamentos diante da vida e seus desdobramentos, pessoais e profissionais.
A Psicanálise nos sinaliza, não é fácil escolher e quem dirá responsabilizar-se pela escolha. Uma escolha requer abrir mão, encarar perdas, mesmo que momentaneamente; o convívio com a família, os amigos (que já não nos procuram mais), a preguiça de algumas pessoas, as festas, os livros que queremos ler, a escrita espontânea e até programas de TV que achávamos o máximo.
Os livros, antes considerados clássicos, para nós, já começam a ser doados, o dinheiro encurta rapidamente, o currículo Lattes, passa a ser nosso companheiro inseparável, ao lado da produção científica.
Como diz um amigo: ”substituir as roupas por Pijamas”, entenderam?
Todos os dias, ao me sentar e abrir meu computador me lembro: A escolha é minha, pijamas ou roupas de passear!
Minha rotina, hoje é aeroportos, livros, cadernos, Xerox, impressões, prazos, e torcer para que o tempo pare.
Escrever e (re) escrever, buscar pistas, percorrer autores jamais pensados, assistir filmes em busca de uma “nova pista”, uma mensagem.
Mês de outubro, dia das crianças, dos professores, um mês que marca minha vida, pessoal, o dia do nascimento da minha grande Mestra: Salua, Minerva Haddad Aron, pessoa que contribuiu para que eu fosse tão diferente, ora até demais, uma pessoa que me ensinou valores e aprendi a não negociá-los. O Mestrado é um deles.
Rememorar, outubro é meu mês sábatico, momento que paro, reflito, olho para trás, reafirmo minhas escolhas ou não. Agradeço por elas.
Sigo em frente, hoje compreendo o sentido de ser diferente, não sou nem melhor nem pior, apenas diferente.
Hoje entendo porque sou fã de carteirinha de Simone de Beauvoir, Freud, e minha relação de amor com o aprender.
Querem saber por quê? Pesquisem.
Quando decidimos fazer um Mestrado, é o que mais escutamos: Pesquise. Então, descobrimos que nossas opiniões, são apenas opiniões, idéias prontas apenas para nós, percebemos que ao longo da nossa vida de estudante, não aprendemos a pesquisar e muito menos a ser autor.
Hoje, tentamos aprender, o que é foco, mesmo tendo dificuldade em torná-lo familiar, mesmo porque o lema atual é o excesso. Reaprendemos que o foco, não é o projeto escrito, e entregue na seleção de ingresso ao mestrado, ele apenas nos permitiu estar ali, abriu o caminho para o passo seguinte.
Neste sentido, concluímos por ora que, o importante é ter foco e pesquisar minhas incertezas, rever idéias que defendia como únicas, e passar a considerar, outras.
Um bom exemplo, para entender o não entendido é o paciente que diz a seu analista:
- Estou prestes a terminar meu processo de análise.
O analista responde: -
"Engano seu, penso que o senhor está prestes a começar". Entrar em análise é mudar de posição, rever conceitos, responsabilizar-se por suas escolhas, como dizia Freud: “Entrar em outra cena”.
13/10/2010 Jane Patricia Haddad
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