Estado de Minas, 16/10/2007 - Belo Horizonte MG
Jane Patrícia Haddad, Psicopedagoga com formação psicanalítica, professora convidada do curso de psicopedagogia do UNI-BH, palestrante e consultora
Ser ou não ser? Eis a questão. Aprender para quê? Onde vou usar o que aprendo na escola e na universidade? Que profissão vou escolher? Será que estou na faculdade certa? Vou conseguir ganhar dinheiro com “isso” que vou escolher? Essas são questões que escuto diariamente em meu consultório, onde atendo jovens e adultos, ora com rótulos de “fracasso escolar”, ora com dúvidas sobre suas escolhas profissionais, ora com “depressões”...E tudo mais que possa ter um nome para justificar o mal-estar humano. Como se a dúvida não fizesse parte do processo humano. O momento é de nós, adultos, nos perguntarmos: esses jovens apresentam problemas? Não seria ausência do desejo de saber? Saber sobre o que estão vendo todos os dias? Não seria isso que eles tentam negar que “sabem”? Nós, adultos, já sabemos o que queremos “ser”? Ou, melhor, sabemos de fato quem somos? Nossos jovens são chamados diariamente pela mídia a “olhar” seus rótulos: “Estar no mundo sem rumo, sem objetivos, sem projetos... vivendo apenas o aqui e agora”. “Jovem espancando alguém... Jovem roubando para...” Pergunto se todos jovens são iguais, com as mesmas marcas. Que mensagem estamos passando para eles? É possível falar em “ser”, aprender e fazer escolhas, quando não se sabe nem quem se é? Quais são as marcas singulares de cada um deles? A que olhar eles estão respondendo? Ou, melhor, a que olhar estão se calando? “O pensamento pode ver, mas dele fica excluído o olhar.” O olhar de quem não quer ver! O olhar de quem se nega a colocar as máscaras estabelecidas por inimigos impalpáveis. Há um vazio presente. Podemos dizer que é um vazio existencial num tempo que passa e nos faz acostumar. A juventude nada mais é do que o reflexo do nosso momento atual, o espelho do nosso olhar, ou melhor, da visão “ato fisiológico” em que nos encontramos. Adultos “kids”, com medo de crescer, medo de se responsabilizar pelas próprias escolhas, políticos narcisos que se escondem atrás do pseudo poder, à violência diária (vírus da normalidade) sem punição, sem lei, caos aéreo com dezenas de vítimas e sonhos rompidos, crianças mortas ou desaparecidas, momentos de incertezas, desemprego. Enfim, momento de desprazer. Há transição de paradigmas nos quais nos deparamos com ausência de modelos adultos. Estamos numa sociedade de excesso e nada pode faltar, sendo que nós, seres humanos, somos seres da falta. E essa falta é que nos move, nos coloca a buscar. É ela que nos mantém vivos. A frustração, o “não”, o erro deve ser encarado como processo de crescimento. O Momento é novo e pede um novo olhar sobre o como fazer.
O que se busca quando se quer aprender algo? Acredito que, a partir dessa pergunta, é possível refletirmos sobre o que se quer? O principal é saber desejar e orientar os jovens a sair do “quietismo” que os paralisa. Com a nossa permissão, desejarão se mobilizar para o saber de si, para depois saber do mundo e poder fazer escolhas. Saber é sustentar o próprio desejo, o que implica em se responsabilizar pelo mesmo. O grande desafio atual é tentar ler nas entrelinhas o discurso não dito e tentar olhar além da visão. É se perguntar o que está acontecendo no mundo. Vivemos num tempo sem tempo, em que o saber é confundido com o “adquirir” excesso de informação e de coisas.
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