Carentes de Escuta
Jane Patrícia Haddad
“A vida para muitas crianças e jovens está no nível insuportável e, quando os escutamos, percebemos que eles falam sobre suas angústias sim. Talvez nós adultos não estejamos preparados para escutá-los, já que estamos tão imbuídos de que eles sejam lindos, felizes e bem sucedidos” Jane Patricia Haddad
Sou aquela pessoa que sempre aposto no sujeito, na família, na escola e na humanidade, Jane Patrícia Haddad, acredito que passamos por uma transição no mundo, onde valores e crenças estão sendo revistos e muito negociados, porém acredito que toda crise nos fortalece, nos reorienta e nos exige determinação, desde que os adultos ainda sejam a bússola das novas gerações. O momento atual é muito profícuo, se conseguirmos nos reposicionar frente aos nossos filhos e alunos. Não sou defensora do discurso vazio de sentido de fim dos tempos como: o mundo não tem mais jeito, os jovens não querem nada com nada, as famílias estão desestruturadas. Enfim, estamos onde deveríamos estar, colocamos filhos no mundo muitas vezes nos esquecendo de que querer ter um filho é diferente de ser pai e mãe. Portanto, o momento é de escutar as novas gerações e retomar o leme dessa viagem, caso contrário estaremos nos deparando com essa “epidemia de depressões e suicídios”. Há algo de novo que teremos que escutar e tentar decifrar.
Por que um número tão grande de crianças e jovens se encontra em sofrimento psíquico? Certa vez, eu li uma pequena história que me marcou muito: Uma pessoa perguntou a um índio de 101 anos, um xamã, como ele fazia para que sua tribo o escutasse, e ele dizia: – Eu ensino meu povo. – O que você ensina? – Quatro coisas: primeiro, a escutar; segundo, que tudo está ligado com tudo; terceiro, que tudo está em transformação; quarto, que a terra não é nossa, nós é que somos da terra. Então, vale lembrar que somos seres históricos, marcados por várias esferas, psíquica, biológica, social e espiritual. A questão não é tão simples. Tudo está ligado a tudo. Sociedade, família e escola. O momento é de muita escuta e atenção. Escutar os novos sintomas, o aumento de depressão em crianças e jovens, o abuso do álcool, o excesso de tecnologia, o desrespeito com os mais velhos, a busca incessante por um modelo de beleza, geralmente disseminado nas mídias, enfim, o que eles estão buscando? Talvez nem eles saibam e muito menos nós. Escuto muitas crianças e jovens que se queixam de não se sentir pertencentes àquela família, àquela escola, àquele grupo de amigos” e principalmente a esse mundo. O que nós adultos pensamos sobre isso?
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