“O mundo precisa de jovens competentes, flexíveis, críticos e conscientes de seu papel enquanto agentes transformadores na sociedade em que vivem ...; para ser bom e se dar bem, é necessário saber trabalhar em equipe...”. Quem de nós nunca ouviu tais afirmações?
A questão a ser pensada é: De que maneira escolas e famílias vêm preparando seus alunos-filhos para interagir com o outro? Que educação é essa que achamos ser a ideal?
Atualmente o que mais escuto entre professores e famílias é que “temos que preparar nossos alunos-filhos para ter sucesso e conquistar um bom lugar no mercado de trabalho”. Não discordo de tal afirmação, o que venho discordando a cada dia, é que, antes de um mercado de trabalho, é preciso enxergar que há um sujeito cheio de desejos, que tem uma vida pulsando antes daquilo que nós adultos desejamos ou estamos entendendo como sucesso, “ser bem sucedido” e “conquistar, conquistar e conquistar”!
Talvez, o momento presente esteja nos fazendo um convite para rever os caminhos adotados até agora pelas Instituições Família e Escola, para que esse fim seja atingido. Caminhos estes que, muitas vezes ferem o respeito humano e os valores básicos de uma sociedade em transformação.
Venho vivenciando verdadeiros “massacres psicológicos”, como pais que comparam filhos; professores que expõem alunos perante a turma; competição na linha do ganha-perde, sem uma ética estabelecida. O fracasso escolar vem se instalando nas escolas, talvez como um pedido de ajuda, por parte dos alunos, sem contar também com o aumento da violência entre crianças, jovens e adultos. Acredito que, conforme aponta a Psicanálise, aquilo que não pode ser colocado em palavras pode aparecer em atos. Poderia ser isso um dos motivos do aumento da violência? Uma falta de espaço-lugar para fala e escuta?
Educar ultrapassa “formar jovens polivalentes e competitivos para o mercado de trabalho”. Como educadores devemos ter o discernimento de respeitar o processo de amadurecimento de um jovem, o qual já é, por si só, muito difícil, um tempo marcado por momentos de inconstância dos vínculos afetivos, um processo de ir e vir, sem saber onde parar, transformações físicas e psíquicas, momento de novas e estranhas sensações, momento de reviver o desamparo infantil e medo do que estar por vir no tal futuro falado por todos.
O trabalho com adolescentes muitas vezes é desgastante, mas nos desafia diariamente a novas perguntas e modos de reinventar a forma como mobilizá-los diante da escola, dos desafios diários, das frustrações e até mesmo dos ganhos que o aprender pode ter.
Educar requer reinventar formas de perceber, escutar e se comunicar com estes jovens confusos, perdidos diante de tantas informações, oportunidades e ofertas.
Alguns canais que venho descobrindo para lidar com esse desafio é o encantamento com o ser adolescente, uma fase tão contestada e temida por nós adultos, e ao mesmo tempo tão viva e presente em nossas vidas. Outro canal que venho descobrindo como estratégia de educar é o constante exercício de alteridade a que me proponho atualmente.
No contato diário com adolescentes, educadores e famílias percebo o momento delicado em que todos buscam entender o que muitas vezes não terá entendimento, apenas acolhimento, primeiro um acolher do nosso próprio adolescer.
Dessa forma, começamos a entender o processo de adolescer, dos nossos jovens; um tempo singular, cada um com o seu, o qual não deve ser forçado e sim estimulado. O amadurecimento chega, é um longo processo, que acontece dentro de um tempo e um espaço nem sempre determinado por nós adultos.
Cada ser humano tem seu tempo, sua história, seu jeito de ser e de agir, de aprender, de progredir. Cabe à escola e à família entenderem esse processo em seu tempo, sem pressa, mas atento aos detalhes, aos sinais... O mercado de trabalho, esse sim dependerá muito do processo de crescimento de cada um.
Concordo que nossa sociedade necessita de jovens críticos, flexíveis e movidos por desejos de transformação, mas primeiro é preciso acolhê-los, escutá-los e orientá-los.
Frustrar e ser frustrado devem ser parte essencial da educação contemporânea. Nós ocidentais sentimos o tempo como algo vazio que precisa ser preenchido rapidamente e na verdade, sinto que o momento da educação é o de esvaziar-se: esvaziar, desapegar, abrir espaço e tempo em nossos currículos, para contemplar o falar-escutar... Desacelerar o tempo cronológico da escola, diminuir o tempo do fazer e intensificar o tempo do sentir, do estar com, do esperar, do emergir de cada sujeito real, diferente do filho-aluno ideal! Quanto mais sabemos da Educação, menos estamos na Educação!
Por Jane Patricia Haddad *
*Jane Patricia Haddad é pedagoga, com especialização em Psicopedagogia, Docência do Ensino Superior e Psicanálise. Atuou por mais de 20 anos em escolas como professora, coordenadora pedagógica e diretora, é consultora institucional e conferencista. Autora dos livros: “Educação e Psicanálise: Vazio existencial” e “O Que Quer a Escola: Novos Olhares resultam em Outras Práticas”, ambos publicados pela editora Wak, do Rio de Janeiro. Atualmente cursa o Mestrado em Educação na Universidade Tuiuti no Paraná , onde seu tema de pesquisa é a Indisciplina Escolar.
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