Os jovens hoje convivem em uma sociedade imediatista, onde o tempo e o espaço são aqui e agora. Pela rapidez com que as informações circulam entre eles é quase que impossível transformá-las em “conhecimento”, a não ser que tentemos entender como é que eles pensam e se estruturam. Uma boa maneira de fazermos este exercício é lembrarmo-nos de nossa própria infância e adolescência. Que sentimentos nos rondavam? É um bom exercício para olharmos com tranquilidade e sabedoria, por exemplo, o momento de escolha profissional entre os jovens.
O momento é dialógico entre todos os envolvidos no processo de educar, seja escola, família, além de profissionais como psicólogos, psicopedagogos... Escolher a profissão não é necessariamente (para sempre) o momento de escolha. Isto requer tempo e orientação, momento de rever o que é seu-nosso, dos pais, dos professores e do próprio sujeito-aluno. Chamo de momento de Revisita!
O momento da escolha profissional acontece frente a frente com a possibilidade do temeroso insucesso e o tão sonhado e prometido sucesso. Cabe aí o discernimento: O que é fracasso? O que é sucesso? É natural nessa fase os pais (inconscientemente) inscreverem em seus filhos falas (desejos misturados) como:
- “Você não será ninguém se continuar sem estudar”;
- “Eu te avisei que você deveria ter seguido os passos de seu irmão”;
- Essa “profissão” não lhe trará reconhecimento financeiro...
Imagino e vejo quando alguns poucos jovens pensam em seguir o Magistério! Nossa é um desafio, conseguir sustentar tal desejo. Por que será?
O momento não é de buscar culpados nem certezas, e sim de reconhecer que no mundo atual nada é certo e constante, estamos em aberto. O momento é de escolha e de sustentá-las, pois é nessas escolhas que eu aposto o tal “sonhado sucesso”. Errar é parte do processo de existir, é caminho é desejo de ... DESEJAR!
O momento deve ser de calma e coparceria, já que, para os jovens, este momento de “pressão” já é quase natural e necessário diante da vida.
Na clínica em que atuo, um caso me chamou atenção:
Abaixo, apenas um recorte, para elucidar o que mencionei acima:
J. tem 18 anos e foi encaminhado pela escola. Motivo: é um jovem do 3º ano do EM, que não sabe o que quer, “mostra-se apático na escola e diante da vida”.
Em uma das sessões, J. fala:
- “Eu não sei direito nem quem sou eu, quem dirá o que serei.”
Dá uma pausa e continua: “Meu pai quer que eu assuma os negócios dele! Ele é dono da empresa X... Eu ODEIO o que ele faz!” (referindo-se ao trabalho do pai).
- “Eu nunca tive coragem de pensar ao contrário do que ele sempre sonhou para mim.
E agora o que eu faço? Você TEM que me ajudar. Se eu falar a ‘verdade’, que não quero trabalhar na empresa, ele pode morrer! Eu já ouvi ele falando isso para minha mãe.”
Nesse pequeno recorte, é possível reconhecer tamanho dilema desse jovem. Deixarei a critério de cada um de vocês para analisar!
E deixo aqui apenas uma reflexão: Ter que escolher uma profissão não pode ser um ato tão solitário e sofrido, é um processo de ir-vir; uma troca, um jogo (antecipar e arriscar). O grande ato da escolha pode ser sustentá-la ou não.
Escolher muitas vezes é angustiante, sustentar nossas escolhas não é tarefa fácil diante de tantas demandas do OUTRO.
O momento é de incertezas, desconstrução e indecisão!
Os jovens precisam “saber” que a frustração é parte do percurso. Escolher requer ter de deixar algo. Sabiamente Gandhi nos deixou esse toque:
“Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos, a consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora, lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem, a capacidade de escolher novos rumos.
Deixaria para você o respeito àquilo que é indispensável: além do pão, o trabalho, além do trabalho, a ação e, quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída.”
Por Jane Patrícia Haddad
*Jane Patricia Haddad é pedagoga, com especialização em Psicopedagogia, Docência do Ensino Superior e Psicanálise. Atuou por mais de 20 anos em escolas como professora, coordenadora pedagógica e diretora, é consultora institucional e conferencista. Autora dos livros: “Educação e Psicanálise: Vazio existencial” e “O Que Quer a Escola: Novos Olhares resultam em Outras Práticas”, ambos publicados pela editora Wak, do Rio de Janeiro. Atualmente cursa o Mestrado em Educação na Universidade Tuiuti no Paraná, onde seu tema de pesquisa é a Indisciplina Escolar.
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