Ranking da violência nas escolas do Estado ao qual o Estado de Minas teve acesso com exclusividade foi elaborado de acordo com relatório inédito da Seds
Pedro Ferreira
Valquiria Lopes
Publicação: 30/10/2014 06:00 Atualização: 30/10/2014 07:08 - Jornal Estado de Minas
Os furtos, as agressões e as ameaças são as principais ocorrências policiais registradas nas escolas de Minas Gerais, de acordo com levantamento feito pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds-MG) e obtido com exclusividade pelo Estado de Minas. Entre janeiro e agosto deste ano, foram registrados 18.871 boletins de ocorrência em escolas federais, estaduais, municipais e particulares do estado, média mensal de 2.358 casos. Desse total, os furtos, as agressões e as ameaças representam 49,1% dos casos.
Em Belo Horizonte, no mesmo período, foram 2.649 ocorrências, média de 331 por mês. O percentual de furtos, ameaças e agressões na capital representa 50,5% do total de registros policiais. Para a Polícia Militar (PM) e especialistas em educação, os números são um retrato da violência urbana que se expande para o interior das escolas, além da ausência de limites entre os alunos e do cuidado da família com os filhos. Os dados se referem a 16.906 estabelecimentos de ensino no estado e foram levantados após uma mudança na metodologia da Diretoria de Estatísticas e Análise da Seds, que catalogou os casos ocorridos somente dentro das instituições de ensino.
Em um dos episódios de violência, ocorrido há um mês na Escola Municipal Tenente Manoel Magalhães Penido, no Bairro Betânia, Região Oeste de Belo Horizonte, o professor de matemática Robson Torrezani, de 52 anos, foi agredido por um adolescente de 17 anos, aluno do programa Educação de Jovens e Adultos (EJA). Robson conta que os insultos começaram quando ele pediu para o estudante, que estava em um canto isolado na sala, se juntasse aos colegas. “Como os estudantes eram poucos, pedi para ele ficar mais próximo da gente e ele partiu para a agressão verbal”, conta o professor, que disse ter sido também empurrado pelo aluno.
Ele disse que a diretora da escola passava pelo corredor no momento e conseguiu evitar que ele sofresse mais agressões. “A Polícia Militar e a Guarda Municipal foram chamadas e o aluno fugiu pulando o muro”, lembra Robson. Segundo ele, o menor ficou alguns dias sem frequentar a escola e retornou como se nada tivesse acontecido. “A gente fica com muito medo, sem saber o que realmente pode acontecer conosco”, disse o professor.
Robson afirmou que o adolescente tem histórico de tráfico de drogas e roubo e intimidava professores, alunos e funcionários da escola. Além da agressão física e verbal, o professor foi ameaçado pelo estudante. “Ele falava que iria acontecer comigo o mesmo que aconteceu com uma professora, que teve seu carro todo arranhado”, disse. No início do ano, segundo ele, os educadores registraram queixa na Secretaria Municipal de Educação contra outros dois alunos, um adulto e um adolescente de 17 anos, por histórico de violência. “A secretaria optou por entregar o certificado de conclusão do ensino fundamental para os dois para que eles fossem embora”, contou o professor.
Polícia preocupada
Chamada a intervir quando a direção da escola já não consegue controlar o problema, a PM avalia as ocorrências como preocupantes. De acordo com o chefe da sala de imprensa da corporação, major Sérgio da Silva Dourado, os chamados são recorrentes. “A maior parte se refere a brigas entre alunos, agressões contra funcionários ou danos ao patrimônio público. Mas, infelizmente, há casos graves, como tentativas de homicídio ou apreensão de armas”, explica o militar. Um desses casos ocorreu em fevereiro, quando um adolescente de 16 anos foi apreendido com um revólver calibre 22 em uma das salas da Escola Estadual Bernardo Monteiro, no Bairro Calafate, Região Oeste de Belo Horizonte. O menino contou à polícia estar armado porque era ameaçado por outros alunos da instituição.
Um mês depois, uma briga entre duas adolescentes de 16 anos na Escola Municipal Isabel Gomes Teixeira, no Bairro Dom Camilo, em Pedro Leopoldo, terminou em tentativa de homicídio. De acordo com a PM, as duas se desentenderam por causa de rixas e disputa de namorado. Para lidar com os casos de violência em instituições de ensino, a PM conta com programas específicos. A Patrulha Escolar tem equipes que prestam assistência exclusiva às escolas. Outra iniciativa é o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), que trabalha com a valorização à vida e ressalta a importância de crianças e adolescentes se manterem longe das drogas e da violência.
Também preocupados com o aumento da violência no interior das escolas, especialistas apontam como uma das causas a falta de limites por parte dos adolescentes. “As instituições de ensino deveriam ser ambientes harmoniosos, com regras claras. Mas os alunos cada vez mais vêm de ambientes intolerantes, onde convivem com toda a falta de limites e valores familiares”, afirma a educadora com formação em psicanálise Jane Patrícia Haddad.
Prevenção e diálogo
Ao avaliar os números da violência nas escolas, a secretária-adjunta de Educação de Minas Gerais, Maria Sueli Pires, disse que a instituição trabalha com a prevenção no combate à violência, esclarecendo a comunidade escolar, principalmente os gestores, sobre os cuidados que devem ter com as crianças e adolescentes. Acrescentou que atua basicamente nos eixos da sensibilização e da capacitação das comunidades escolares e na mediação de conflitos em parceria com a Polícia Civil e Defensoria Pública de Minas.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte informou que tem programas de prevenção e acompanhamento dos casos de violência e de intervenção e apoio às escolas, para diminuir o número de ocorrências policiais nas instituições de ensino. Temas como prevenção ao uso de drogas, bullying e outras formas de violência são discutidos por professores, alunos e famílias por meio do Rede pela Paz.
Já o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) diz que o número de casos de violência nas instituições privadas é baixo. “Como as particulares têm regimento que permite uma punição mais rígida, como expulsão do aluno em situações de violência, os casos são menos recorrentes”, informou Emiro Barbini, presidente do Sinep.
Ocorrências mais comuns em instituições de ensino
(Janeiro a agosto)
Minas Gerais
» 1º Furto: 5.023 (média mensal de 627,8 casos)
» 2º Agressão: 2.159 (média mensal de 269,8 casos)
» 3º Ameaça: 2.090 (média mensal de 261,2 casos)
» 4º Dano ao patrimônio: 1.494 (média mensal de 186,7 casos)
» 5º Lesão corporal: 1.176 (média mensal de 147)
» Total: 18.871 ocorrências
Belo Horizonte
» 1º Furto: 780 (média mensal de 97,5 casos)
» 2º Ameaça: 289 (média mensal de 36,12 casos)
» 3º Outras infrações com a pessoa: 269 (média mensal de 33,62 casos)
» 4º Vias de fato/agressão: 237 (média mensal de 29,6 casos)
» 5º Dano: 142 (média mensal de 17,7 casos)
» Total: 2.649 ocorrências
Fonte: Armazém de Dados do Reds/Seds
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