Jane Patrícia Haddad

Palestras e Conferências

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Nos últimos dias, tenho pensado: quanto vale uma vida para as companhias aéreas?

Todo início de ano, vivo em aeroportos por conta de compromissos educacionais.

Longe de casa, fico mais sensível e reflexiva, sempre me perguntando: vale a pena ficar longe dos que amo?

Sou movida por causas e desejos, e isso me mantém em constante movimento entre estudos e trabalhos. Mas, confesso, nos últimos meses tenho testemunhado tanto desrespeito e descaso com os seres humanos que me pergunto: quanto vale uma vida? Será que tudo isso vale a pena?

Entre cancelamentos de voos, atrasos e até quedas, me questiono: a vida de alguém tem valor para essas companhias? Ainda sou humana, logo, sinto, vejo e escuto.

Testemunhei dois idosos chorando. Eles estavam no aeroporto há mais de oito horas, sentados em suas cadeiras de rodas, comendo amendoim e bebendo água (sim, a companhia forneceu isso gratuitamente). Estavam a caminho de conhecer os netos, uma viagem programada com seis meses de antecedência.

Logo depois, conversei com uma noiva e sua família. Eles estavam prontos para embarcar, mas o voo foi cancelado. Que ironia: ela perderia o próprio casamento. A cidade em que estávamos só ofereceria um novo voo dali a dois dias. Sim, eu vi isso acontecer.

Ali, éramos todos invisíveis com nossas histórias humanas. O jovem funcionário — humano — repetia como um robô:

— Sinto muito, fomos avisados de que a aeronave está em manutenção. Não podemos fazer nada, mas fiquem tranquilos, o voo já foi remarcado para daqui a dois dias.

Sim, isso é real. Os invisíveis dos aeroportos têm vidas, têm compromissos, ainda sonham e apostam.

Finalmente, hoje, consegui embarcar — um dia depois. Em outra companhia, que, por sinal, me obrigou a pagar outra passagem e hospedagem.

Agora, depois de duas conexões, correria e invisibilidade, escuto o comissário anunciar:

— Senhores passageiros, devido ao curto tempo de voo, não ofereceremos serviço de bordo. Caso queiram um copo d’água, apertem o botão.

Quanto vale uma vida?