Todo início de ano, vivo em aeroportos por conta de compromissos educacionais.
Longe de casa, fico mais sensível e reflexiva, sempre me perguntando: vale a pena ficar longe dos que amo?
Sou movida por causas e desejos, e isso me mantém em constante movimento entre estudos e trabalhos. Mas, confesso, nos últimos meses tenho testemunhado tanto desrespeito e descaso com os seres humanos que me pergunto: quanto vale uma vida? Será que tudo isso vale a pena?
Entre cancelamentos de voos, atrasos e até quedas, me questiono: a vida de alguém tem valor para essas companhias? Ainda sou humana, logo, sinto, vejo e escuto.
Testemunhei dois idosos chorando. Eles estavam no aeroporto há mais de oito horas, sentados em suas cadeiras de rodas, comendo amendoim e bebendo água (sim, a companhia forneceu isso gratuitamente). Estavam a caminho de conhecer os netos, uma viagem programada com seis meses de antecedência.
Logo depois, conversei com uma noiva e sua família. Eles estavam prontos para embarcar, mas o voo foi cancelado. Que ironia: ela perderia o próprio casamento. A cidade em que estávamos só ofereceria um novo voo dali a dois dias. Sim, eu vi isso acontecer.
Ali, éramos todos invisíveis com nossas histórias humanas. O jovem funcionário — humano — repetia como um robô:
— Sinto muito, fomos avisados de que a aeronave está em manutenção. Não podemos fazer nada, mas fiquem tranquilos, o voo já foi remarcado para daqui a dois dias.
Sim, isso é real. Os invisíveis dos aeroportos têm vidas, têm compromissos, ainda sonham e apostam.
Finalmente, hoje, consegui embarcar — um dia depois. Em outra companhia, que, por sinal, me obrigou a pagar outra passagem e hospedagem.
Agora, depois de duas conexões, correria e invisibilidade, escuto o comissário anunciar:
— Senhores passageiros, devido ao curto tempo de voo, não ofereceremos serviço de bordo. Caso queiram um copo d’água, apertem o botão.
Quanto vale uma vida?
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