Foto: Claudio de Moura Castro aprendeu inglês lendo revisas de eletrônica
Claudio de Moura Castro aprendeu inglês lendo revisas de eletrônica
Muitos têm a fortuna de receber uma Educação sólida, do início até a formatura. Outros sofrem com escolas ruins, sem jamais receber delas as luzes. No meu caso, vivi uma montanha russa educacional. Tive o pior e tive o melhor. Sobrevivi. Mas foi por pouco.
Cursei o ginásio em uma escola do interior, em que todos os professores eram sérios e comprometidos. Mas por lá não aterrissou o sonho de descobrir a beleza das ideias. Era um saber bolorento e decorado. Eu sentia isso e me vingava, infernizando a vida dos professores e diretores. No entanto, nesse período houve três eventos marcantes.
O primeiro é que, lendo e perscrutando por trás dos assuntos mortos trazidos à sala de aula, convencia-me de que havia um mundo das ideias e que nele havia a vida que não chegava à minha escola. Ou seja, vislumbrei esse mundo, apesar dos professores que tive.
Como a escola era supremamente chata, gastei todas as minhas energias em aprender mecânica, ferraria e marcenaria, na fábrica em que meu pai trabalhava. Lá descobri o mundo das ferramentas e dos processos mecânicos. Descobri a inteligência embutida em tudo isso - ao contrário do que pensam os trabalhadores da caneta. Vivi o supremo prazer de fazer bem feito, de buscar a perfeição nos trabalhos realizados. Isso tudo, aprendi em uma oficina e não nas muitas escolas que frequentei.
Amainada a fase da mecânica, fiz um curso de rádio-técnico por correspondência. Era o mundo da eletrônica que se abria e me deslumbrava. De quebra, aprendi inglês lendo revistas de eletrônica.
Continuei frequentando escolas boas e ruins. Porém, houve uma virada em minha pós-graduação. Talvez fosse um prêmio do destino, por haver resistido a tanta Educação medíocre. Fui aluno de Mario Henrique Simonsen, de Amartya Sen (prêmio Nobel) e de Georgescu-Roegen (quase prêmio Nobel). Frequentei algumas das melhores universidades do globo. Lá descobri um mundo que não passava de uma miragem na minha juventude.
Claudio de Moura Castro é economista e articulista da revista VEJA. É graduado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre pela Universidade Yale e doutor pela Universidade Vanderbilt