1) Na novela Páginas da Vida percebemos várias opiniões diferente sobre este assunto. Afinal, um portador de Síndrome de Down pode estudar em escolas normais (ou não especializadas)?
R: Portador, que porta ou conduz. O portador de Síndrome de Down conduz 47 cromossomos por célula ao invés de 46 agrupados em 23 pares, portanto, ele conduz um a mais. Este cromossomo extra é identificado no par 21, que em vez de dois, passa a ter três cromossomos.
Bem, para entender, todo aluno pertence a sala de aula, qualquer aluno, ele tem esse direito e a escola tem o dever de aceitá-lo. Parto da premissa que o aluno com Síndrome de Down é um aluno como outro qualquer dito “normal”, que não tem um cromossomo a mais, mas pode apresentar um distúrbio de aprendizagem por alguma razão, ou mesmo um distúrbio de conduta ou outros diferentes déficits que não necessariamente são aparentes. O aluno Síndrome de Down pode pertencer a uma escola “normal”, ela é que tem que estar preparada para recebê-lo, digo isso até na questão da discriminação e os professores preparados para ensiná-lo. O alunos SD tem que ser ensinado no mesmo contexto curricular e instrucional com os demais colegas. Se isso não acontecer não estará realizando a Inclusão.
2) O que é necessário que a escola tenha para esse aluno seja enquadrado dentro dela?
R: Em primeiro lugar, toda a escola tem que estar bem planejada e estruturada, não só para a Síndrome de Down mas para qualquer criança e para que haja esse planejamento e estruturação se faz necessária a ampliação do raio de abrangência da reflexão pedagógica. Essa reflexão fica em função de diversos fatores, tais como o espaço dessa escola para realizações de atividades diversas, que este espaço seja acessível para materiais os quais serão utilizados para o domínio didático, instrumentos e objetos que poderão facilitar esta progressão, a disposição de mobílias, a interação de pais e escola, a boa aceitação do professor em relação a este aluno, o aluno deverá ser bem recebido pelos colegas e isso a escola e o professor deverão ter um papel fundamental neste processo, todos os personagens desta escola deverão estar preparados para recebê-lo e saber lidar com ele. A escola deve acomodar todos os alunos independetemente de suas condições e deve desenvolver uma pedagogia centrada no aluno. Ela deve ter como princípio básico a idéia de que todos devem aprender juntos não importando quais dificuldades e diferenças que esses alunos possam ter e precisa reconhecer e responder às necessidades diversificadas que o aluno possa ter. Portanto, a escola tem que assegurar educação de qualidade. Deve haver muito afeto e calor humano.
Essa escola terá que ser e dar o suporte para este aluno exercer seu papel de cidadania. Defendo que todas as pessoas devam e sejam incluídas em escolas comuns.
3) Nossos professores e nossas escolas estão capacitados e preparados para dar suporte a esses alunos?
R: Não. Uma grande parte das escolas estão começando a se aperfeiçoar e facilitar a capacitação de seus professores. Mas existe ainda uma minoria que insiste em não favorecer e fornecer o suporte pedagógico desses professores para que atuem mais especificamente e adequado a essas crianças.
Os professores por sua vez tentam de alguma forma buscar recursos externos por conta própria para aprender a lidar com este ser, mas existem aqueles que se acomodam e não adotam uma abordagem que propicie ajuda na solução de problemas e dificuldades. Eles mesmos sentem dificuldade para conduzir procedimentos perante a essas crianças pela falta de preparo.
4) Você tem exemplos que venceram essas barreiras?
R: Sim, vários exemplos que hoje se encontram em adiantado processo pedagógico. Ainda há muito o que fazer mas o interessante é vê-las crescendo e concluindo etapas para seu desenvolvimento. Tenho meninos e meninas que hoje alcançaram degraus ilustres.
5) Quais os procedimentos do professor em relação a esses alunos?
R: Para começar o professor não deverá apresentar discriminação a esses alunos. Ele deverá oferecer oportunidades curriculares adaptados aos alunos com diferentes interesses e capacidades Adotar abordagens que propicie ajuda na solução de problemas e dificuldades. Ser um bom ouvinte.
Estimular outras pessoas importantes na vida do aluno e direcionar seu aprendizado para aumentar sua auto-confiança.
6) Se uma escola normal insiste em reprovar várias vezes esse aluno por achar que ele não tem desenvolvimento suficiente para acompanhar a turma, os pais devem tentar outra escola?
R: Sim. Essa escola ao meu ver não está preparada para lidar com esse aluno. A próxima escola deverá estar preparada para fornecer um suporte pedagógico a esse aluno.
7) E os outros segmentos de Inclusão? Quais são eles e quais são suas dificuldades dentro da escola?
R: Existem muitos. O compromisso de desenvolver e favorecer o respeito mútuo e o apoio entre a equipe que procede com esses alunos, os pais, a comunidade, acreditando na amizade e o benefício que uns podem ter pelos outros. A unificação da equipe como parte integrante para o trabalho juntos. A comunicação entre a escola e família. A oportunização das falas dos pais. A inclusão desses pais no treinamento com a equipe escolar. Colocar a escola à disposição dessa família. A estimulação. Fornecer e favorecer um ambiente agradável e prazeroso a esse aluno e a própria família. A escola deverá respeitar quanto a etnia dessa família. A maior dificuldade é dar confiança ao educador para que perceba suas habilidades e assim ensinar de modo inclusivo.
8) Mais alguma consideração a fazer?
R: Para pensar em Inclusão não devemos pensar somente na pessoa portadora de alguma deficiência. Somos parte integrante de uma sociedade que também luta para ser incluído. Dentro da escola não é somente o SD que precisa ser incluído mas aqueles que de certa forma apresentam alguma diferença que possa incomodar àqueles que se julgam normais. Não devemos rotular a não ser que queiramos fazer algo por eles.
Nós profissionais devemos entender e nos conscientizar e não esquecer do grande poder que exercemos sobre as famílias dessas crianças e que nossas opiniões e muitas vezes decisões os fazem modificar todo um processo de vida e como consequência acaba sendo desastroso e decepcionante para elas.
Essas famílias são especiais porque vivem o conflito de quebra da idealização de colocar no mundo um ser “normal”. Repense sempre quando os encontros marcados com eles (família) são cancelados, quando não conseguimos uma vaga para a inclusão do filho em alguma coisa e sempre fazê-los ouvir que seu filho ficará na lista de espera e no que temos para oferecer como recurso e que por mais profissional e conhecedor que você possa ser, esses pais têm razão, acredite e escute e chega de falar em inclusão somente quando queremos ou alguém é excluído.
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