O mundo está em crise, não uma crise qualquer, destas que, nos remete ao crescimento e nos tira da paralisação, e sim uma crise de “horror” de impunidade, crise de dor, de assassinatos, de descasos, de vergonha política, enfim eu a chamo de crise da “ Normalidade”. Tudo está virando normal.
“ Eu sei que a gente se acostuma...mas não devia...(Marina Colassanti) .
No primeiro momento nos chocamos, nos solidarizamos, nos colocamos no lugar dos que acabaram de perder seus entes queridos, choramos e até... nos indignamos.
A mídia sabe como nos tocar, principalmente “naquilo que não queremos olhar” e nem “ escutar”.
“ Tragédia no Aeroporto de Congonhas. ”Terça feira dia 17 de julho, 18h51min... Jornal da Globo nos Chama... Atenção! Olhem! ( mas não vejam).
O esperado, acontecera, o momento do “ relaxa e goza” chegou ao seu ápice, agora era momento , de “ brochar” e rezar para que, nenhum, ente querido “meu, seu, nosso” estivesse naquele vôo. As informações eram tantas que, nem sabíamos mais se estávamos “escutando” algo real ou do imaginário. Algo, já nos falava muito antes daquele acidente, só não escutávamos.
Fico aqui , pensando, ouvindo sem escutar, no momento, me encontro fora de casa, viajando a trabalho, sinto um vazio, uma solidão, um verdadeiro desamparo humano, e logo me vem uma questão: Eu poderia ser um dos “mortos”? Viajo tanto? Como seria imaginar a própria morte?
Ao mesmo tempo, penso no avanço da ciência, da tecnologia, lembro que a todo momento nos deparamos com novas descobertas sobre a mente humana e suas habilidades cognitivas, sobre as células tronco e suas possibilidades de cura, tão discutida atualmente.
E , me pergunto: E o olhar humano por onde anda? O olhar do saber? Saber, sobre algo que não estamos conseguindo ver? Saber além das nossas máscaras? Saber o que está acontecendo com a humanidade? Com o mundo?
No entanto, mais uma vez , abrimos os jornais e o assistimos “sem ver” ao show: os noticiários do horror, o tal “horror do saber real”. Que saber é esse? Já sabíamos que isso aconteceria, era só uma questão de tempo. E novamente, nos acostumamos, atrasos, pane nos aeroportos... cancelamentos. Enfim, mais uma vez, permitimos de alguma forma que o horror nos “ acordasse” antes que voltássemos a dormir.
Hoje, fora de casa, recolhida no meu silêncio interior, ouso a pensar sobre minha incompletude humana. Fico tentando entender o saber de cada um? O saber da, nossa isenção de qualquer responsabilidade?
O show da mídia ,nos chama a “ buscar” “encontrar “e apontar responsáveis pelo mal-estar do Horror em que nos encontramos.O importante é que, a responsabilidade seja do Outro.
O Vírus da “ normalidade” e da banalização humana , foi vista mais uma vez por todos que quiseram ”ver” e entrar na Cena : Vergonha; Local:Palácio do Planalto; “Seres Humanos em cena” . Assessores do nosso querido , Presidente da República; Tema: A falha não é nossa, comemoravam! mais um show de “ isenção” sobre a tragédia aérea .
A pouco mais de um dia do “horror” num quadro de dor, onde vidas, sonhos, desejos e seres humanos haviam desaparecidos em chamas, queimados pela fogueira da vaidade humana, o mais importante naquele momento, era para eles, ditos “ seres humanos” e tantos outros, encontrar um culpado , para tal horror inominável. Ou seria melhor, relaxar e gozar?
A Normalidade está nos deixando cegos, surdos e mudos.
Assassinato em massa, na Virgínia , criança morta no Rio de Janeiro após ser arrastada por bandidos, doméstica espancada por adolescentes, gente morrendo com balas perdidas, avião cai em Congonhas e quantos outros horrores. Até quando?
Estamos pagando um preço alto pelo nosso descompasso entre onde estamos e o que pensamos. Algo está fugindo do nosso entendimento? ( Jorge Forbes).
Como suportar tamanho vazio, sem encontrarmos um culpado para tudo isso? De onde vem tanto mal-estar e tanta dor? É preciso urgentemente, olharmos além, daquilo que estamos vendo, e não nos conformarmos com tanta “ normalidade”.
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