Por Jane Patrícia Haddad
Em primeiro lugar quero agradecer o convite em ser colunista desta revista que tanto admiro, os profissionais que aqui trabalham são pessoas que nos fazem acreditar que: “Tudo vale a pena desde que a alma não seja pequena”, em segundo lugar quero parabenizar a Direcional Escolas pela ousadia de provocar novos olhares sobre nossa “adoecida” educação contemporânea. Hoje vou iniciar minha coluna com o intuito de refletir sobre: EMPODERAMENTO FEMININO. É um alívio ver e comprovar que finalmente estamos saindo das teorias e partindo para as ações. Parabéns Direcional Escolas, estamos juntos no tecer de novas construções e CON – FIANDO em cada ponto, desatando cada nó e fiando novo(s) pontos(s)… É assim que acredito que o mundo se transforma, é no um a um, no caso a caso, na(s) singularidade(s) é que mora o SER HUMANO.
Tecendo as primeiras ideias…
“Tecer sobre: empoderamento, palavra esta que tem seu berço na língua inglesa ‘empowerment’ que significa: ‘dar poder’ a alguém para realizar uma tarefa sem precisar da permissão de outras pessoas”. Nossa, que desafio!
No Brasil, o saudoso Paulo Freire foi um dos primeiros a usar o conceito como um neologismo; empoderamento. Para o educador, a pessoa, grupo ou instituição empoderada é aquela que realiza, por si mesma, as mudanças e ações que visam a evolução, o fortalecimento do grupo e, principalmente, a conscientização de cada um e seu reflexo no grupo social. Portanto, entendo o empoderamento como um grande tear, com pontos, nós e possibilidades de costuras e (re) costuras, um tear que faz histórias individuais e suas lutas entre um opressor e seus oprimidos, entre um aprisionamento e suas libertações. Tecer pontos entre a possibilidade de conquistar a liberdade de pensar e agir e o não saber o que fazer com ela.
Empoderar-se é restituir a si mesmo e ao outro o movimento de suas ideias, posições (econômica, física, política, cultural, social) e seus desejos “adormecidos” de poder escolher suas convicções e sustentá-las.
Empoderar-se é considerar os diversos pontos de vista e escolher o seu ponto de vista.
No ano de 2013, trabalhei alguns dias na Namíbia (Angola) e ao conversar com um grupo de mulheres oprimidas por décadas, e hoje com perspectivas reais de liberdade, eu disse: Agora vocês estão livres. E uma delas me respondeu:
– Esse é o problema, Jane. Hoje temos asas e não sabemos como voar! Não aprendemos a ser livres.
Imediatamente entendi no coração, o que Paulo Freire escreveu em palavras: “Os oprimidos, tendo internalizado a imagem do opressor e adotado suas linhas de atuação, têm medo da liberdade”.
Liberdade é uma conquista diária, é um divorciar-se da culpa de se estar livre, é entender que toda verdade pode ser relativa e nem sempre seremos condicionados. Liberdade é aprender a olhar para dentro de si e perceber-se parte de um todo muito maior que pensamos, ou melhor, do que fomos condicionados a pensar.
Empoderar-se de si mesmo é o primeiro passo desse grande TEAR chamado VIDA. É iniciar o passo a passo, é CONFIAR ponto a ponto na própria liberdade de sentir, de expressar e interpretar o que nos acontece, o trabalho que escolhemos é dar sentido diariamente ao que fazemos.
Como aprendiz que tenho sido, nessa arte de educar, é nessa arte da vida que venho exercitando meu olhar e minha escuta, é a cada viagem que me permito (re) significar o que propus a fazer: falar e escutar o SER HUMANO oprimido em seus pensamentos “condicionados”.
É no mundo que sinto a possibilidade de mudança, é no ato de EDUCAR que existe a possibilidade de oferecer um sentido para aprender, para abrir os olhos e enxergar o outro.
É na arte de conversar, lenta e constante, que sinto o FIAR e CON-FIAR sobre histórias de (des) aprisionamento, é na arte de educar que se faz possível “dar poder” a alguém para realizar uma tarefa sem precisar da permissão de outra pessoa, e com isso entender que DIZER NÃO ao OUTRO, muitas vezes é um ato de amor a SI PRÓPRIO.
Jane Patricia Haddad é Mestre em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná (2010-2013). Docência do Ensino Superior pelo Centro Universitário Newton Paiva (2004), Teoria Psicanalítica pela UFMG (2001) e Psicopedagogia pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (1999). Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1998).
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