Jane Patrícia Haddad

Palestras e Conferências

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Superação de desafios é o verdadeiro legado das Olimpíadas

Lilian Monteiro - Estado de Minas Publicação:05/09/2016 13:20Atualização:05/09/2016 13:24

(Quinho)

Sucesso da Olimpíada e proximidade dos Jogos Paralímpicos que começam na quarta-feira, no Rio, proporcionam reflexão sobre seguir em frente diante dos obstáculos

O sucesso da Olimpíada no Rio de Janeiro e o que se espera dos Jogos Paralímpicos, que ocorrem de 7 a 18 deste mês, é que o legado intangível da maior festa do esporte do planeta, que é o espírito olímpico, seja abraçado e praticado por todos os brasileiros. Mas o que ele significa? Como se aplica? Como se mostra?





Os Jogos Olímpicos surgiram há cerca de 2.700 anos a. C. na Grécia antiga, como uma espécie de armistício entre lutas territoriais. De quatro em quatro anos, todas as guerras entre as cidades-estado gregas cessavam, as armas eram depostas e trocavam-se os campos de batalha pelos estádios olímpicos. Era uma época sem política, sem batalhas, apenas de culto aos deuses nas provas desportivas.

Participar. Saber ganhar, saber perder. Ser alçado ao posto de herói ou não. Competir, mostrar talento, agilidade, destreza, força, luta, esforço, entrega, superação. O espírito olímpico é o guardião do que é ético, do que é humano, do que tem valor real no esporte e na vida. E se faz presente na forma da tocha, que na sua volta pelo mundo simboliza a união dos povos.

O espírito olímpico, a cada quatro anos, mostra ao mundo como a natureza humana deveria agir diariamente, em todos os níveis das relações entre os homens e o planeta. Pierre de Frédy, conhecido como Barão de Coubertin, foi um historiador e pedagogo francês que entrou para a história como o pai dos Jogos Olímpicos na Era Moderna. Praticante obstinado de esportes, ele foi atleta de boxe, esgrima, remo e equitação, e adotou para a Olimpíada o lema que serve para a vida: “O importante não é vencer, mas competir e com dignidade!”.

No Bem Viver de hoje vamos falar do espírito olímpico, mas não aquele que o atleta olímpico incorpora para ganhar a sonhada medalha de ouro, porque como ressalta o cardiologista e médico do esporte Marconi Gomes da Silva, da Sportif Clínica do Exercício e do Esporte, “o espírito do atleta de alto rendimento é de alguém extremamente competitivo, com pontos positivos e negativos e em desequilíbrio porque ele treina acima do limite recomendado pela medicina e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele corre riscos e sabe deles, como os osteomusculares, metabólicos e cardiológicos e vai ao seu máximo. Ninguém ganha medalha só com treino. O atleta olímpico já nasce com características próprias, anatômicas, com programação biológica e genética. O ser olímpico é um ser diferenciado, não é para quem quer, é para quem pode. E o espírito que o move é o da competição, o ganhar com muitas privações, como o da vida social, o que provoca muitos transtornos psicológicos. Por isso, precisam de foco, já que vão lidar com decepção, derrotas e têm ser mentalmente fortes”.

ESPELHO
O outro lado do espírito olímpico, ensina Marconi, e que deve orientar todos nós na vida e termos como espelho é que “o espírito olímpico que rege o atleta olímpico é o da superação, que envolve se adaptar às dificuldades e enfrentar os desafios. O que depende da resiliência, de aguentar o problema, se tornar mais forte e conseguir mostrar seu potencial. E não só nos momentos de competição, como atleta amador, mas no dia a dia, resistir à dor, à frustração, à notícia ruim, à dificuldade, à depressão”.

O cardiologista lembra ainda que o espírito esportivo também está presente no papel de representar um país, a nação de cada um, o que tem forte significado, “e a analogia pode ser feita com a família, amigos e quem torce por você”. E lembrando dos voluntários, há ainda “o espírito de colaboração que uma Olimpíada proporciona e desperta”. Em especial, a do Rio'2016, Marconi destaca “a diversidade apresentada e a superação do Brasil que teve um trabalho hercúleo de sete anos e se comportou com o espírito olímpico para um país com tantas desigualdades”.

Para ele, ninguém conquista de graça o sucesso, que só vem com trabalho e esforço. “Foco e determinação são pilares do espírito olímpico para levar para a vida. A juventude tem dificuldade, há muitos agentes que a distrai, o atleta não se permite isso. Ele sabe que, quando posterga, não enfrenta o processo evolutivo porque adia e terá uma existência sem significado, já que não tomou às rédeas da vida”. Marconi Gomes da Silva alerta que, o atleta olímpico, de alto rendimento convive com um desequilíbrio pelo nível que almeja atingir, mas o que nós mortais temos de buscar desse espírito olímpico é “lembrar das nossas reais capacidades em níveis maiores, não explorados e não usar como desculpas a preguiça, a acomodação, a negligência, não nivelar por baixo nosso potencial. A harmonia da vida é quando os vários campos estão em equilíbrio, quando a vida segue um rumo com significado, que não é a medalha”, aponta.

O esporte assume papel educativo no mundo moderno, ainda que, infelizmente, tenha esportistas que ajam ou tenham atitudes antidesportistas. Sejam trapaceando com o uso do doping ou não aceitando a derrota, não cumprimentado o adversário. Nos Jogos do Rio'2016, assistimos a exemplos de puro espírito olímpico, quanto de atletas que o envergonharam. Os dois ensinam e deixam ainda mais claro qual é o lado vencedor, e não só dentro da quadra, estádio ou piscina, mas na vida.



DETERMINAÇÃO
Assim como nas provas esportivas, especialistas dizem que Jogos inspiram nas pessoas sentimentos de perseverança, humilde e força para seguirem adiante e superar obstáculos



“Não basta competir: é preciso vencer limites e obstáculos, antes mesmo de se vencer os adversários. A superação é um valor intrínseco ao espírito olímpico, traduzindo uma forte relação do atleta consigo mesmo – seu corpo, sua mente, seu preparo, resistência e equilíbrio. Há uma busca pela primazia, pela perfeição, pela capacidade de ir além e se realizar diante dos limites rompidos.” Assim Renata Feldman, psicóloga e psicoterapeuta humanista analisa o espírito olímpico e lembra que essa “super-ação” é permeada de “significado e sentido, tornando a subida ao pódio mais bonita. Conquistar medalhas é crucial em uma Olimpíada, mas a forma de conquistá-las tem um valor especial. E é aí que também entra a postura ética de se solidarizar com a adversária que vai ao chão, num misto de cumplicidade e respeito. Se por um lado o atleta está focado em si (no melhor de si), por outro há a força de um espírito olímpico que o conduz, baseado em valores éticos e humanos. Afinal, um mundo inteiro está sendo representado por meio de seus atletas”.

Renata destaca ainda que o espírito olímpico também carrega outra mensagem importante, que “a torcida pela paz, pela harmonia das diferenças, pelo senso do coletivo e pelo reconhecimento da diversidade. O que se mostra nas provas olímpicas é um tanto do que se mostra na vida, por meio de diversas possibilidades de postura e comportamento: garra, motivação, dignidade, autoestima, determinação, flexibilidade, humildade, cumplicidade, solidariedade; como também, em alguns casos, arrogância, rigidez, egocentrismo, falta de inteligência emocional”.

A psicoterapeuta, que ministra palestras e é autora de livros, enfatiza que ao torcermos pelos atletas, torcemos por nós também porque “projetamos nas quadras, nas piscinas, nas pistas todo o nosso anseio por vitória, de forma catártica e identitária”.

EDUCAÇÃO

Jane Patricia Haddad, mestre em educação, psicanalista, psicopedagoga e com mais de 22 anos de experiência atuando em escolas como professora, coordenadora pedagógica e diretora, acredita que “o esporte vem sendo uma forma de expressão das novas gerações, por algum motivo eles se sentem pertencentes ao grupo, ao país. As Olimpíadas nos abriram os olhos para olharmos além do perde-ganha; os atletas conseguiram nos contaminar com o sentido de equipe, de esperança e superação, tão escasso no mundo contemporâneo”.
Na visão da pedagoga Jane Haddad, os Jogos Olímpicos aquecem o coração das pessoas (Edésio Ferreira / EM / DA Press)
Na visão da pedagoga Jane Haddad, os Jogos Olímpicos aquecem o coração das pessoas.

Para Jane, “todos nós seres humanos estamos fragilizados com nossas pátrias e hábitat, mas por algum motivo o esporte conseguiu criar uma raiz mundial, única, onde os sonhos podem ser sonhados independentemente da raça, cor, etnia, sexo... Algo nas Olimpíadas nos aqueceu o coração. De alguma forma, os jovens atletas estão entendendo que competir, ultrapassa uma guerra, ultrapassa apenas uma medalha, competir é superar-se diariamente, comparado a si mesmo”.
Os ensinamentos dos Jogos Olímpicos são ainda maiores. A psicanalista diz ainda que eles nos mostraram que “perder é parte necessária de qualquer jogo, para que um dia se possa ganhar. Entre vaias e aplausos, fica uma mensagem: cada um ali é sujeito de uma história pessoal de superação e, com isso, eles ajudam a fazer uma outra história da humanidade. Nas Olimpíadas de 2016, foi possível ver a função de uma educação para humanização, essa que aos poucos vem sendo desenhada nas escolas”.


Inspiração para todos nós


Atletas de alta performance, como os que disputam as Olimpíadas, têm objetivos bem definidos. O master coach sênior José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), diz que esses são profissionais que compreendem suas potencialidades físicas e sabem onde podem, e querem, chegar. Nesse sentido, vemos que alguns atletas vão às olimpíadas para conquistar o ouro, outros para chegar entre os 10 melhores e, ainda, aqueles que desejam apenas completar a prova. E cada um tem seu momento de superação e o espírito olímpico é traduzido de diversas formas.


“O francês da marcha atlética, que mesmo com um desarranjo intestinal e chegou a desmaiar, teve a mente mais forte que seu físico. Estava preparado para ir até o fim. Hoje, ele é conhecido como o atleta que superou limitações por completar a prova. As corredoras que caíram e se ajudaram mostraram um momento de altruísmo. Elas seguiam com o mesmo objetivo, se envolveram no incidente, mas naquele momento o pódio já não era mais preocupação para elas. O objetivo era outro: terminar a prova a qualquer custo, mesmo com as torções e arranhões. É claro que os atletas não fazem isso pensando em reconhecimento, nem em simplesmente “aparecer”. Mas o fato é que grande parte das pessoas se recordará desses acontecimentos por muitos anos, porém muitos sequer sabem o nome dos medalhistas de ambas as provas. Sim, esses momentos servem a todos de inspiração”, exemplifica o master coach sênior.

NÃO JULGAMENTO

Para José Roberto, “objetivos bem definidos, visão sistêmica, o olhar ao outro, compaixão, espírito esportivo, de cooperação, quebra de barreira e crenças limitantes e quebra de protocolo são alguns dos aspectos que podemos citar que envolvem o espírito olímpico”. Ele enfatiza que precisamos olhar para o próximo com um olhar mais altruísta, se colocar no lugar no outro, tentando enxergar a situação do outro, no sentido de pensar: o que eu faria se fosse comigo? “O não julgamento contribui para o desenvolvimento dessa visão mais humana, que vença o melhor, mas também podemos chegar aos nossos objetivos. Ninguém precisa perder para o outro ganhar, todos ganharão perante seu esforço. No esporte a performance fala mais alto, já que o objetivo é estar sempre a frente. Mas mesmo assim conseguimos extrair diversas lições acerca dessa forma de conquista. Um atleta não precisa prejudicar o adversário para ser o melhor, ele apenas precisa ser o melhor e será o espelho para o segundo lugar, e até para aquele que chegou na última colocação, buscando sempre a superação”.
José Roberto afirma que o espírito olímpico está ligado ao evento olímpico, porém podemos criar um espírito de cooperação. “Podemos todos ganhar diante do esforço de cada um e também, quando possível, o esforço em grupo. Nas empresas, em casa, precisamos incentivar um clima de competitividade e não de competição. A diferença é que na competição você compete com o outro, já na competitividade você compete consigo mesmo, dando o melhor de si, se desafiando. Acredito que esse é o caminho”.

Os benefícios do coaching esportivo*

» 1) Maior comprometimento com resultados
» 2) Motivação pessoal e profissional
» 3) Capacitação e desenvolvimento de habilidades esportivas
» 4) Comunicação efetiva
» 5) Capacidade de tomar decisões assertivas, de maneira rápida
» 6) Desenvolvimento de foco, comprometimento e disciplina
» 7) Inteligência emocional
» 8) Autoconhecimento e autodesenvolvimento contínuo
» 9) Definição de objetivos e prioridades
» 10) Boa performance nas competições
» 11) Trabalho em equipe
* Fonte: Master coach sênior José Roberto Marques


Derrotas e conquistas na Rio '2016

A Olimpíada do Rio de Janeiro, além de unir as nações, contou para o mundo as histórias de superação, o espírito esportivo e ainda os atletas que não souberam respeitar os adversários. Entender a derrota e valorizar o trabalho do rival faz parte de um esportista de alto nível, capaz de disputar uma competição tão importante como a realizada aqui no Brasil. Porém, nem todos os envolvidos sabem a importância disso. No ano de 776 a. C., foi selada uma aliança entre reis de diferentes regiões da Grécia. Naquele tempo, as guerras predominavam no país e este acordo estabeleceu a Paz Olímpica enquanto durassem os jogos. É nesse contexto que os atletas olímpicos têm de se basear para entrar numa competição tão respeitosa como os Jogos Olímpicos. Conheçam aqui algumas histórias dos atletas que disputaram a Olimpíada do Rio e que mostraram, positivamente ou negativamente, sua presença. (Colaborou Victor Moreira)

Abbey D'Agostino (EUA)

Nikki Hamblin (HOL)
Ganhar medalha numa Olimpíada é o sonho de todo atleta, mas nem sempre são as conquistas que marcam a carreira de um esportista. Durante os 5.000 metros feminino de atletismo dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, uma cena de superação chamou a atenção do mundo para o que é de fato o espírito olímpico. Na prova, a norte-americana Abbey D'Agostino se chocou com a neozelandesa Nikki Hamblin e ambas caíram. Podendo seguir na corrida, Abbey preferiu socorrer a adversária e ajudou a companheira a se levantar. Lesionada, a atleta dos EUA foi motivada por Nikki a continuar na prova e a recebeu com um abraço ao cruzar a linha de chegada.

Rafaela Silva (BRA)

(YASUYOSHI CHIBA /AFP)

Negra, chamada de “macaca” durante a Olimpíada de Londres, em 2012, homossexual e pobre. Essas são algumas das barreiras que a brasileira Rafaela Silva, do judô, enfrentou para chegar até os Jogos do Rio de Janeiro. Como não bastasse, ela mostrou que a força de vontade e a superação podem vencer qualquer desafio e conquistou, pela primeira vez, uma medalha de ouro feminina na modalidade. Nascida na Cidade de Deus, uma das favelas mais violentas do Rio, Rafaela entrou para o esporte por meio do programa social do Instituto Reação, do ex-judoca Flávio Canto, medalhista de bronze em Atenas'2004. Antes de ingressar no time brasileiro, ela se tornou atleta da Marinha e foi lá que desenvolveu técnicas para o ouro olímpico.


Yohann Diniz (FRA)
Recordista mundial em 2014 na prova de 50 quilômetros de marcha atlética com o tempo de 3h32min33seg, o francês Yohann Diniz mostrou, realmente, como é ser campeão. Ele não conseguiu lugar no pódio da Olimpíada do Rio de Janeiro, mas confirmou ser exemplo de persistência e superação. Durante a prova carioca, ele teve problemas intestinais, perdeu a consciência, caiu na pista e desmaiou por alguns segundos. Socorrido por voluntários, Yohann levantou, se hidratou e voltou até cruzar a linha de chegada na oitava posição, depois de 3h46min43seg.

Etenesh Diro (ETI)
Foi como no começo dos Jogos Olímpicos, na Grécia, em 1896, que a atleta etíope Etenesh Diro levantou a torcida no Estádio Engenhão. Na reta final da prova eliminatória dos 3.000m com obstáculos, Etenesh perdeu sua sapatilha direita e, mesmo diante da dificuldade, cruzou a linha de chegada apenas com um pé calçado. No fim, veio o prêmio pelo esforço: classificação para a final da prova, pois a organização decidiu que ela havia sido prejudicada, e o aplauso do povo brasileiro.

Piotr Malachowski (POL)
Mesmo com o fim dos jogos do Rio de Janeiro, seu legado fora dos campos de competição continua sendo escrito. Medalhista de prata no lançamento de disco, o polonês Piotr Malachowski leiloou seu triunfo do Rio'2016 para pagar o tratamento de Olek Szymanski, um menino de 3 anos que sofre com retinoblastia, tipo raro de câncer que atinge apenas crianças pequenas. Uma fundação polonesa já havia conseguido arrecadar um terço da quantia necessária (R$ 405 mil) para o tratamento de Olek, em Nova York. Também em seu Facebook, Piotr publicou que conseguiu vender a medalha por “uma quantia que o permitia completar a arrecadação”.

Popole Misenga (Time de refugiados)
As pessoas que estavam presentes na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico, vivenciaram um momento de forte emoção durante a prova de judô. Popole Misenga, do peso-médio, foi uma daquelas crianças que lutam desde o começo da vida com guerras no seu país. Ele teve de deixar a República Democrática do Congo, onde nasceu, para ganhar a vida e ser um atleta olímpico. Na Rio'2016, Misenga foi além e venceu o indiano Avtar Singh, levando o público ao delírio, assim como já havia ocorrido na abertura. Ele não ganhou nenhuma medalha.

Sajad Moradi (IRA)
Uma das cenas de superação mais marcante da Olimpíada do Rio de Janeiro veio da maratona masculina. Na reta final da competição, o iraniano Sajad Moradi não resistiu ao cansaço e ao forte calor e caiu na pista antes da faixa de chegada. Totalmente esgotado, ele tentou se levantar, mas caiu novamente e terminou a prova de joelhos. Ele foi aplaudido e socorrido pelos companheiros de modalidade e médicos.

Fehaid Al-Deehani (Time dos refugiados)
Natual do Kuwait, Fehaid Al-Deehani, da fossa dupla do tiro esportivo, começou a superar os desafios antes mesmo de competir no Rio de Janeiro. Sua participação sob a bandeira de seu país foi impossibilitada devido à suspensão dada aos árabes, motivada pelas denúncias de que haveria influência do governo kuwaitiano no esporte do país. No entanto, Al-Deehani tentou até o fim competir pelo Kuwait, mas foi recusado. Mesmo assim, ele entrou para a competição sob a bandeira de refugiados e conquistou a medalha de ouro para sua equipe – a primeira da história.

Isaquias Queiroz (BRA)
O baiano Isaquias Queiroz, maior canoísta do Brasil, teve de superar duros obstáculos até chegar ao Rio de Janeiro e conquistar três medalhas – duas de prata e uma de bronze. Aos 2 anos, Isaquias tinha sua primeira queda na vida, quando perdeu o pai. Um ano depois, ele sofreu um acidente com água fervente, teve graves queimaduras e ficou internado por um mês. No mesmo período, o canoísta foi raptado por uma mulher e encontrado sozinho e chorando, em uma roça de cacau. Em 2004, aos 10 anos, Isaquias teve hemorragia interna e perdeu um rim, depois de cair de uma árvore. Em setembro do ano passado, o brasileiro sofreu um acidente de carro, depois de buscar o irmão no aeroporto em Ilhéus.

Serginho (BRA)
Com quatro pinos nas costas devido a problemas lombares, duas medalhas de ouro Olímpicas no peito e duas de prata, o líbero Serginho, o Escadinha, mostrou que não chama a atenção somente dentro das quadras. Depois de ser campeão do vôlei nos Jogos do Rio de Janeiro, ele visitou o time brasileiro de vôlei sentado, que disputará a Paralimpíada. Aos 40 anos, o jogador, que anunciou aposentadoria do Brasil e focará somente no Sesi-SP, seu clube, entrou na quadra e jogou com os atletas pela primeira vez na carreira. Ele tirou fotos com os companheiros e aproveitou para pedir incentivo à equipe durante a competição.

Robson Conceição (BRA)
Verdadeiros campeões são aqueles que fazem da vida uma luta interminável. É assim que Robson Conceição, de 27 anos, chegou ao Rio de Janeiro para conquistar o mundo do boxe. Vendedor de picolé em Salvador, na Bahia, ele foi uma criança de infância pobre e ajudado pela avó a entrar no esporte. Ela incentivou Robson a ingressar em um projeto social que ensinava boxe para jovens entre 13 e 16 anos na sua cidade natal. Depois disso, ele não parou mais e conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil na história da Olimpíada. Antes, o pugilista tinha entre suas conquistas um ouro nos Jogos Sul-Americanos de Santiago (2014), um vice-campeonato no mundial de Baku (2013), uma medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara (2011) e um ouro nos Jogos Mundiais Militares do Rio (2011).

Thiago Braz (BRA)
Neto de pescador, Thiago Braz vivia, há quatro anos, no anonimato. Natural de Marília (SP), ele começou a se destacar no salto com vara e foi campeão mundial júnior em 2012. No mesmo ano, ele via o mundo aplaudir Renaud Lavillenie, o francês que se tornou campeão olímpico e recordista mundial. Porém, o começo da vida de Thiago não foi tranquilo. O atleta foi abandonado pela mãe ainda menino e os avós foram responsáveis pela sua criação e contam que, por dias, ele ficou esperando a mãe com a sua mochila nas costas. Ela nunca veio, mas a medalha de ouro olímpica chegou ao seu peito. O destino quis que Thiago encontrasse Lavillenie, seu ídolo, diante do povo brasileiro e ele deixou o adversário de queixo caído ao bater a meta de 5,85m, ganhar o ouro na Olimpíada do Rio Janeiro e quebrar o recorde olímpico.

Espírito Antidesportista

Ryan Lochte (EUA)
Uma Olimpíada nem sempre é marcada por boas imagens ou atitudes. Há sempre aqueles que tentam manchar a história da competição ou de um país. Foi nesse contexto, que a Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat), da Polícia Civil, concluiu as investigações sobre o caso do falso roubo a nadadores olímpicos norte-americanos. O medalhista de ouro Ryan Lochte, e os companheiros de delegação Gunnar Bentz, Jack Conger e James Feigen, disseram que haviam sido assaltados depois de voltar de uma festa na capital carioca, mas por meio de vídeos, foi provado que eles depredaram um posto de gasolina. Assim, Lochte foi indiciado por falsa comunicação de crime. Houve ainda um pedido para que os autores sejam enviados à Comissão de Ética do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Renaud Lavillenie (FRA)
O francês Renaud Lavillenie, do salto com vara, saiu do Rio de Janeiro com o rótulo de mais criticado pelo povo brasileiro. Não foi a toa que ele ficou conhecido assim, pois, em disputa pelo ouro com Thiago Braz, do Brasil, no Engenhão, Lavillenie reclamou da atitude da torcida, que vaiava quando ele pulava. Como não bastasse, após perder a medalha de primeiro lugar, ele comparou o povo brasileiro aos alemães de Hitler, que vaiavam quando algum negro competia. Depois disso, Lavillenie voltou ao estádio para figurar no pódio, receber a medalha de prata e como provocativa, foi novamente hostilizado pelas pessoas nas arquibancadas. O francês ainda fez um gesto de negação, como forma de que não estava gostando, antes de saltar.

Islam El Shehaby (EGI)
Identificação religiosa, terra, água e poder bélico são alguns dos motivos pelos quais os povos entram em conflito no Oriente Médio. Porém, essa atitude não pode ser levada para dentro da Olimpíada e o judoca egípcio Islam El Shehaby proporcionou uma cena lamentável durante os Jogos do Rio de Janeiro. Ele se recusou a cumprimentar o israelense Or Sasson após a luta entre ambos, o que provocou vaias da plateia na Arena Carioca 2. El Shehaby, de 32 anos, teria sido pressionado por seus fãs nas redes sociais para não comparecer à luta contra seu adversário israelense, pois os torcedores argumentavam que isso envergonharia o Islã. Ele, no entanto, decidiu não se retirar da luta, mas não agradeceu o adversário por ter lutado contra ele. Após Sasson derrotar El Shehaby e os dois judocas retomarem suas posições em frente ao árbitro, o israelense se curvou e depois se aproximou para cumprimentar o egípcio, que deu as costas e foi embora.


Valorização das Diferenças


Mais de 440 crianças de 6 a 11 anos participaram nesta semana de uma imersão em algumas atividades dos Jogos Paraolímpicos na Fundação Torino Escola Internacional, em Belo Horizonte. Os participantes são alunos da Scuola Elementare da instituição, equivalente ao ensino fundamental, e tiveram, com a iniciativa, a oportunidade de vivenciar as modalidades paraolímpicas, descobrir na prática os desafios e superação dos atletas, além de se aproximarem da realidade dos portadores de necessidades especiais. “A escola propôs a diversidade cultural como tema pedagógico para os alunos da Scuola Elementare neste ano letivo. Acreditamos que trabalhar os Jogos Paralímpicos como atividade curricular é também uma forma de ajudar os alunos a aprenderem mais sobre empatia, respeito e valorização das diferenças”, diz Marcus Vinícius Leite, diretor Didático Brasileiro da instituição.


A programação contou com atletismo, futsal e vôlei sentado. As provas de atletismo foram realizadas com um atleta-guia e o com outro vendado. Já no futsal, os competidores são vendados e é utilizada uma bola com um guizo dentro. Para todas as modalidades são feitos alguns exercícios preparatórios para que os alunos ganhem confiança para praticar os esportes. Na preparação para a prova de atletismo, por exemplo, os alunos foram vendados e com ajuda de um colega ou de uma corda receberam orientações para caminharem pela quadra.