Fonte: Jornal Estado de Minas
Acessado em 04/12/2016
Minas Gerais passa do 2º para 12º lugar no ranking nacional de presença dos estudantes em sala de aula ao longo dos anos de estudo
Nos nove primeiros anos da vida escolar, acesso praticamente universal às salas de aula. Mas passado o ensino fundamental, onde a frequência das crianças mineiras é a segunda maior do Brasil, abrangendo 98,6% da faixa etária de 6 a 14 anos, os estudantes de Minas Gerais começam a debandar.
Entre os que abandonam definitivamente ou por algum tempo os estudos, o retrato da frequência mineira às salas de aula despenca para a 8ª colocação nacional no ensino médio (15 a 17 anos) e para a 12ª no superior (18 a 24 anos), com índices de frequência de 61% e 19,8%, respectivamente.
Esse é o preocupante retrato da formação dos jovens no estado mostrado na Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente a dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2015 e de outros levantamentos. A pesquisa aponta também que Minas Gerais é um estado que padece com a informalidade, falta de saneamento, urbanização e excesso de violência.
Gargalo do ensino nacional e detentor dos mais altos índices de evasão e reprovação do país, o ensino médio tem sido alvo de discussões e polêmicas para sua remodelação, que culminaram com o Plano Federal de Educação, uma proposta que gerou protestos e ocupações de escolas e universidades em todo o país. Entre as medidas impopulares dessa proposta estão o fim da obrigatoriedade de matérias como educação física, artes, religião e filosofia e também uma ampliação gradual da carga horária de 800 horas anuais para 1.400.
A proposta aguarda apreciação do Congresso Nacional. Para a pedagoga com mestrado em educação Jane Patrícia Haddad, a forma como ocorre a transição do ensino fundamental para o médio propicia esse abandono. “A mudança representa também a saída da educação municipal para a estadual, que é um grande gargalo, pois as escolas municipais investem mais em estrutura e em formação do professor. Os jovens também acabam por enfrentar a necessidade de ter um emprego, ainda que um subemprego, e isso muitas vezes os tira da escola”, afirma a especialista.
A pedagoga concorda que mudanças no ensino médio precisam ser feitas, mas não apoia o projeto do governo federal. “O atual ensino não atende à juventude. Temos percebido que quando os jovens atingem os 18 anos tendem a eliminar o ensino médio, por ser uma educação que não está fazendo sentido. Teria de passar por reformulação estrutural e não apenas curricular. Temos de escutar esses jovens e trabalhar num conceito de mobilização cultural”, disse.
A pesquisa do IBGE é relativa à frequência líquida dos alunos, que busca saber se a pessoa entrevistada frequenta a escola no nível que deveria pela idade. Já a frequência bruta avalia apenas se a pessoa está ou não na escola. Nesse quesito, também, Minas está abaixo do Brasil (26,8%) com 25,2%”, aponta a analista do IBGE, Luciene Longo. Essa taxa é maior entre a população de 6 a 10 anos, onde a cobertura mineira (99,2%) é melhor que a nacional (98,9%). Já a taxa de frequência líquida – dentro da idade esperada para o ensino – dessa população, cuja faixa etária condiz com os anos iniciais do ensino fundamental, era de 91,4% no Brasil e 95,3% em MG.
Urbanização abaixo da média brasileira
Um estado que ainda carece de investimentos em urbanização e de grande informalidade. Esse é o retrato de Minas Gerais, segundo a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE, baseada em dados de 2015. A taxa de urbanização do estado é de 84%, sendo inferior à do Sudeste brasileiro, de 93,1%, e abaixo da média nacional, de 84,7%. “Diferentemente de lugares menores e de intensa concentração urbana, como o Rio de Janeiro e São Paulo, Minas Gerais é mais extenso e tem grandes áreas rurais”, destaca a analista do IBGE Luciene Longo.
A informalidade no mercado de trabalho atinge 41,1% dos mineiros de 16 anos ou mais ocupados, um índice superior a todos os demais estados do Sudeste, sendo que no Espírito Santo esse total é de 38,2%, no Rio de Janeiro chega a 32,9% e em São Paulo não passa de 27,6%. A informalidade mineira, no entanto, ainda fica um pouco abaixo da média brasileira, que é de 41,9%.
Em relação aos três serviços básicos de saneamento, que são o abastecimento de água por rede geral, o esgotamento sanitário por rede coletora ou pluvial e a coleta de lixo, a cobertura de municípios mineiros chega a 77,6% dos domicílios, um número que supera a média nacional, de 63%. Contudo, a situação é extrema nas áreas rurais mineiras, onde apenas 10% dispõem de água encanada, esgoto e coleta de lixo ao mesmo tempo. Minas Gerais tem ainda o pior índice do Sudeste quanto a crianças de 0 a 14 anos sem nenhum dos três serviços básicos de saneamento, com 8,7% desse total, contra a média de 3,1% da região.
A pesquisa também trouxe um retrato mais atual do mineiro e de sua família – uma vez que 91,8% da população do estado nasceu em Minas – em relação aos brasileiros. A taxa de fecundidade total das mulheres em Minas Gerais se mostrou menor do que no Brasil, com as mineiras gerando em média 1,59 filho, ao passo que no Brasil a média é de 1,72 filho. A gravidez na adolescência (15 a 19 anos) também ficou menor no estado (47 filhos por mil mulheres) em comparação com a média brasileira (59,4).
Em relação à mortalidade infantil, Minas Gerais apresenta uma taxa inferior à média nacional, com 11,4 óbitos por mil nascidos vivos contra 13,8. A esperança de vida ao nascer do mineiro chega a 77 anos, também superior à média do brasileiro, de 75,4 anos. A violência é destaque negativo. No Brasil, entre as pessoas de 18 anos ou mais, 3,1% relataram que sofreram alguma violência ou agressão cometida por bandido, ladrão ou assaltante, índice superado em Minas, chegando a 3,7%. No caso de agressores conhecidos, como parentes, vizinhos ou amigos, o Brasil apresenta 2,4% de ocorrência e Minas 3,6%, o maior percentual do Sudeste brasileiro.
< Anterior | Próximo > |
---|