Escolas e Famílias no Divã

O SINEPE ES em parceria com outros profissionais, resolveram criar um COMITÊ de segurança nas Escolas que funcione como uma rede de proteção à infância e juventude para a garantia de direitos da criança e do adolescente. Após o massacre nas Escolas Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Primo Bitti, em Coqueiral de Aracruz, no norte do Espirito Santo, ocorridos no dia 25 de novembro de 2022, onde o protagonista do massacre, era um adolescente de apenas 16 anos, ex aluno de uma das escolas atingidas. O adolescente estava armado com revolver, facas e arco e flecha, o jovem trajava uma roupa camuflada, bordada com uma suástica nazista, (algo em comum com os outros massacres ocorridos em escolas, onde há um traço teatral de exibição e aparição). Nosso COMITÊ não tem como proposta demonizar tecnologias, ou mesmo apontar os dedos para as famílias ou Escolas e muito menos propagar ressonâncias apocalípticas de final de tempos e a possibilidade de uma geração nem-nem. Nossa proposta é um ato de cuidado junto.
O momento é de urgência e há algo no ar que está nos escapandoo que precisamos nos ater na criação de um espaço de escuta e fala, onde a palavra pode ser colocada como uma real oportunidade de debate entre os educadores, nossa aposta é no um a um, na singularidade onde cada sujeito tem uma história para contar. Sabemos que a ausência da palavra pode propiciar a violência , como temos assistido diante de casos estarrecedores de mortes prematuras entre crianças e jovens. para todas as instituições educacionais que queiram diminuir o silêncio diante de atos tão violentos que estamos presenciando e vivenciando em nossas escolas. Estamos aqui reunidos pela causa do desejo, em construir uma ação frente a essa experiência traumática que o Espirito Santo viveu e que mais uma vez nos causou perplexidade e incômodo. Juntos e juntas buscaremos uma construção de Cultura da paz, uma cultura que não negue o conflito escolar, mas que o traga para um debate ético e acolhedor, sem juízo de valor.
Vale ressaltar que apenas no ano de 2022, tivemos conhecimento de outros dois ataques em escolas. Um em Barreiras (BA), por um adolescente de 14 anos, onde o atirador matou uma menina cadeirante com um facão, já que a arma de fogo falhou no momento do disparo. E o outro em Sobral (CE), onde um adolescente feriu três colegas com arma de fogo.
Por fim, queremos reforçar que não temos a pretensão de darmos respostas e explicações sobre as razões de tais massacres, mas sim de marcar a urgência de refletir, falar e escutar sobre os “assassinos juvenis” que se encontram muitas vezes desamparados, fazendo-se notar apenas através da produção do ato de massacrar inocentes. Assim, parece ser importante manter um espaço de problematização desses episódios, dando a eles a importância que certamente eles evocam nesse momento.
As discussões e troca de experiências ocorrerão nas segundas feiras (?) XX horário pela plataforma XX, inscrições…
Nossos encontros acontecerão via zoom XX e serão gravados e transcritos para o material que será produzido pelo SINEP-ES e lançado no Congresso de Agosto.
Inscrições…

Março: (on-line) (abertura) Jane Haddad
Abril: (on-line) Autores Ademar Batista Pereira; Cristina Pereira: Geraldo Peçanha e Jane Haddad. Livro: Escola no Divã
Maio: Jane Haddad – Chaves de Leituras e filmes
Junho (Gestores) João Carlos Martins
Agosto (CONGRESSO). PRESENCIAL
Plenária de representantes de algumas discussões –
Talk show com Hilary e Jane Haddad – sobrevivente Suzano. Diretora da Escola de Aracruz e o secretário de segurança e professor.
Rodrigo Carneiro – Neurologista especialista nas tecnologias e seus impactos. Em janeiro de 2022, a dependência de videogames e de redes sociais se tornou oficialmente uma nova doença, ganhando o seu próprio CID (Código Internacional de Doenças).

ABAIXO ALGUNS RECORTES E QUESTÕES PARA OS NOSSOS ENCONTROS:

O REGISTRO DA MÃE
Três meses após o massacre de Aracruz (ES), a mãe do jovem vem a público e faz um alerta aos pais de adolescentes para que não aconteça com outros o mesmo que ocorreu com seu filho.

“Abra o celular dos seus filhos, vasculhe, veja aplicativos, peça para ver tudo. Controle o que ele pode acessar, converse com seu filho. Às vezes, meu filho não demonstrava emoção nenhuma e isso é um alerta”. A mulher conta que o filho estudou até o nono ano na Éber Louzada, onde, segundo ela relata, foi vítima de bullying por conta da aparência física. No entanto, nunca chegou a contar para os pais sobre as situações. “Ele guardou para si o tempo todo. Ele nunca fez nada de errado para que eu desconfiasse.” Após o nono ano, o jovem foi para uma escola particular. Em 2020, por conta da pandemia, seguiu os estudos de forma on-line, migrando para o híbrido em 2021. Muito retraído e tímido, conforme descreve a enfermeira, ele não conseguiu fazer amizade na escola, o que, segundo a mãe, agravou a introspecção.
Foi a partir desse período que a mãe percebeu algumas atitudes. “Ele começou a usar muita roupa preta, o que, para mim, parecia normal, afinal, usar roupas pretas não diz nada. Depois, pediu para comprar o suspensório e também uma máscara, o que achei estranho e neguei”, relata a mãe. O jovem, então, passou a ser violento e estressado. Deixou de dar boa noite à mãe, que cuidava dele e do irmão gêmeo sozinha. Também passou a ficar tempo demais no celular e no computador. Dizia estar estudando e, por ser época de vestibular, ela não percebeu que poderia ser algo diferente.
“Achava que ele estava estressado e, por isso, violento. Pensei que ele estava chateado comigo, por isso o distanciamento. Pelo computador, ele comprou um arsenal, que estava escondido no guarda-roupa dele, acessou grupos de pessoas que vendiam armas e ensinavam a atirar.” “Meu filho invadiu a escola, queria causar um confronto e morrer pela polícia. Foi a linha de raciocínio dele. Meu filho não tinha problema nenhum. Nunca deu sinal de psicopatia. Por isso queria alertar os pais a estarem atentos aos sinais”, destaca a mãe e enfermeira.

O sofrimento dos pais e professores repercutem diretamente na dificuldade em se comunicar e sustentar seus lugares frente aos “novos” filhos e estudantes, essa deve ser uma temáticas essencial para os dias atuais.

De acordo com Antônio Zuin , professor do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e autor do livro “Cyberbullying contra Professores”, reforça o papel da escola para mediar conflitos e prevenir futuros casos de violência: “Quando um aluno xinga o outro e o professor vê e continua dando aula, essa atitude estimula o preconceito e a reprodução de sentimentos ruins dentro do aluno agredido”. Para esse professor, o aluno que é agredido pode reprimir seus sentimentos de frustração. Em uma sociedade que valoriza cada vez mais a cultura bélica, isso pode levá-lo a decidir os conflitos pela violência. “O professor precisa interromper a aula e conversar sobre o que aconteceu. Aí temos uma chance de a escola prevalecer sobre a bala”.
O que os estudantes parecem esperar de seus professores, é um lugar de um adulto, profissional, capaz de estabelecer lações, portador de um saber que ele deseje transmitir e explicitar. Será que essa afirmação faz sentido?
Pais, os adultos estão “demitindo-se” de suas funções. (Sua função de representantes do Outro perante as crianças e adolescentes. O que essas demissões podem acarretar?
Por que boa parte dos Massacres tem acontecido por adolescentes e jovens quietinhos? Porque os “silenciosos” voltam nas Escolas. O que deixaram lá que não foi visto?
Estariam algumas crianças e jovens encontrando uma forma de se fazerem ser vistos através desses espetáculos de horror? Fica também uma questão: Por que nos últimos dez anos, no Brasil (ver tabela em anexo), estamos sendo surpreendidos por episódios de massacres em Escolas protagonizados por adolescentes e jovens?
O sofrimento psíquico pode gerar atos de violência?
Crianças e jovens encontram-se muitas vezes, diante de uma perfeita maquinaria audiovisual técnica que funciona 24 horas por dia. Os efeitos dessa longa exposição às telas já podem ser notados na saúde mental, emocional e física das crianças e jovens?

Vocês já ouviram falar sobre Dark web e Deep Web?
O que a Psicanálise tem a nos orientar ? A função dos pais está registrada para o sujeito em três níveis de experiência que são o real, o imaginário e o simbólico. Cada um deles tem funções e características próprias. Entretanto, se algum nível não se faz presente, a dinâmica da estrutura psíquica perde a propriedade de estabelecer diferenciações entre ilusões projetadas e os impostos pela cultura. Estaríamos diante da morte do Simbólico?

 

CHAVES DE LEITURAS PARA CONVERSAÇÕES QUE ACONTECERÃO NAS DATAS ACIMA.

1. PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN

Livro: Para falar de Kevin Khatchadourian, 16 anos – o autor de uma chacina que liquidou sete colegas, uma professora e um servente no ginásio de um bom colégio dos subúrbios de Nova York –, Lionel Shriver não apresenta apenas mais uma história de crime, castigo e pesadelos americanos: arquiteta um romance epistolar em que Eva, a mãe do assassino, escreve cartas ao marido ausente. Nelas, ao procurar porquês, constrói uma reflexão sobre a maldade e discute um tabu: a ambivalência de certas mulheres diante da maternidade e sua influência e responsabilidade na criação de um pequeno monstro.
Filme completo no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=_AobXqfD0Q8
Quatro pontos para o debate:
1) A história de Kevin: a relação mãe-bebê;
2) O contexto familiar;
3) A adolescência de Kevin;
4) O massacre (endereçamento).

2. Livro: COLUMBINE. O dia 20 de abril de 1999 deixou uma marca indelével na história norte-americana. O Massacre de Columbine pode não ter sido o primeiro tiroteio em massa, mas foi o primeiro da era digital ― e o primeiro de larga magnitude. Na esteira dos acontecimentos de Newtown, Aurora, Virginia Tech, Christchurch, Suzano e Ohio, torna-se cada vez mais urgente compreender e confrontar acontecimentos como o de Columbine. Nossa arma é reaprender a ouvir a dor que cresce em silêncio no outro e no cerne dos valores da nossa sociedade. Columbine é lembrado até os dias de hoje sempre que um episódio horrível e similar ocorre, mas boa parte do que sabemos sobre o massacre está errado. Erros factuais e testemunhos duvidosos propagados à época permanecem verdade absoluta para muitos; é fácil dizer que dois meninos rejeitados pelos atletas e pelas garotas, vítimas de bullying, que vestiam sobretudos e descontavam sua raiva em videogames violentos fizeram o que fizeram por essas razões, mas até que ponto isso é real? Dave Cullen foi um dos primeiros repórteres a chegar à cena e passou dez anos escrevendo Columbine, livro que hoje é considerado a obra definitiva sobre o tema. Passar tanto tempo debruçado neste projeto o fez analisar a postura da imprensa na época com olhos críticos; hoje, Cullen acha que a mídia tentou encontrar um motivo rápido demais, e um episódio que deveria promover uma discussão sobre desarmamento e saúde mental acabou se transformando em um espetáculo midiático irresponsável.
Com um faro investigativo apurado e uma narrativa terna e respeitosa, Cullen apresenta o retrato de um assunto ainda infelizmente tão atual, ao mesmo tempo em que critica a cobertura massiva que se sucedeu.
Documentário de Columbine: https://www.youtube.com/watch?v=KSXBovSl3bU
Filme documentário Columbine:
https://www.youtube.com/watch?v=AHQq_PF0roI

 

3. Livro: O ACERTO DE CONTAS DE UMA MÃE (sue Klebold é a mãe de Dylan Klebold)
Sue Klebold é a mãe de Dylan Klebold, um dos atiradores da Escola de Ensino Médio de Columbine, uma tragédia que chocou o mundo. Sue passou os últimos quinze anos analisando cada detalhe da vida de sua família, tentando compreender a interseção crucial entre doença mental e violência. Em vez de ficar paralisada pelo sofrimento e remorso, ela se tornou uma voz entusiasmada e efetiva em questões de saúde mental, trabalhando incansavelmente para aumentar a conscientização sobre o assunto.
Entrevista com Sue Klebold no TED Youtube: “Meu filho foi um atirador de Columbine”. https://www.youtube.com/watch?v=A8NgxmaljuQ

 

4. A GERAÇÃO DO QUARTO: QUANDO CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS ENSINAM A AMAR. Ferreira, Hugo Monteiro. Rio de janeiro: Record, 2022.
Um ótimo retrato da juventude contemporânea no Brasil, A geração do quarto é leitura indispensável para pais, mães, professores, cuidadores, terapeutas e todos que de alguma forma convivem com crianças e jovens.

 

5. ESCOLA NO DIVÃ: Ademar Batista Pereira. Esther Cristina Pereira. Geraldo Peçanha de Almeida. Jane Patrícia Haddad. Rio de Janeiro: WAK Editora,2018.
Quatro educadores, se juntam neste diálogo para buscar novas compreensões da escola. Juntos eles somam mais de 100 anos de experiência educacional. O que esses quatros educadores tem a dizer nesse livro? De conversas com pais e educadores, passando pela sociedade em que estão inseridos trazendo a visão de mantenedores e gestores, eles passam por todos os campos de composição da escola numa escuta pautada no SUJEITO.

O mundo, a sociedade e as Escolas não irão mudar magicamente, mas serão outras Instituições, o tempo já nos mostra isso. E certamente, para quem quiser ver e olhar tudo estará mais visível. Dessa forma, nós do COMITÊ nos colocamos nesse movimento de ANTEVER o que estar por vir, desejamos tecer palavras e escutas, assim como uma agulha tece e costura pedaços, unindo-os. Hannah Arend, filósofa política de origem judaica, sobrevivente do holocausto, que criou o conceito de “BANALIDADE DO MAL”, já nos alertava: “Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história”. As dores da vida são nossas emoções e sentimentos, através delas, vamos aprendendo a nomear e a falar, isso pode nos curar. Portanto, o que vemos nesse momento nos pede calma, a calma da costura, do tecer, do desatar nós e amarrar as pontas soltas. É nessa ideia de um grande TEAR, que podemos aprender juntos a enxergar o fio que ninguém vê, mas ele está ali, entre nós. Mia Couto escreveu no seu conto: O FIO DAS MISSANGAS: “As missangas, todos as veem. Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as missangas. Também assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo”. Que sejamos POETAS costurando o tempo presente!

 

Jane Patrícia Haddad
10/02/2023

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